Há qualquer coisa de desconcertante e bizarro no derradeiro número da Newsweek. Esperar-se-ia que a última edição impressa da revista — segue-se uma viragem exclusiva para a Internet — fosse, em última instância, uma apresentação sedutora (ou, no mínimo, pedagógica) da nova existência da publicação, tanto mais que a editora Tina Brown, principal responsável pelas transformações dos últimos dois anos, em associação com o site The Daily Beast, lança um mote esclarecedor: "Por vezes, a mudança não é apenas uma coisa boa, é também necessária." O certo é que esta edição que encerra 79 anos em papel (com 4150 números publicados) mais parece uma lamentação nostálgica pelo que... vai desaparecer.
Os temas evocados são, obviamente, pertinentes e incontornáveis, desde o papel da Newsweek nos movimentos feministas da década de 60 até à cobertura jornalística do 11 de Setembro, passando pelas reportagens sobre as guerras travadas pelos soldados americanos (nomeadamente no Vietname e Afeganistão). Mas o tom envolve um sentido de perda profissional e insegurança simbólica que justifica, pelo menos, uma dúvida: até que ponto o património da Newsweek vai encontrar a sua expressão, e também a hipótese de desenvolvimento, nas especificidades do território online?
Para já, ficamos a aguardar a nova Newsweek, fazendo votos para que a visão do seu futuro não se enraíze numa precipitada cegueira conceptual. Aliás, é a própria revista que, com grande fair play, recorda os logros de algumas das suas "perspectivas" históricas. Uma delas, por paradoxal ironia, envolvia uma apreciação do futuro da Internet: "Nicholas Negroponte, director do MIT Media Lab, prevê que em breve vamos comprar livros e jornais directamente da Internet. Pois, está bem." — o artigo chamava-se "A Internet? Bah!" e foi publicado a 26 de Fevereiro de 1995.