[ 1 ]
O olhar escondido de James Stewart e o "objecto" do seu desejo (Kim Novak). É bem verdade que Hitchcock foi dos que levou mais longe a utilização dos planos subjectivos (recordemos a espantosa cena do carro sem travões no seu prodigioso e tão mal amado filme final, Intriga em Família, de 1976). Mas se o fez não foi por mera instrumentalização do espaço. Como aqui se demonstra: a coexistência dos dois na mesma imagem extrapola o cinema para além da transparência ilusória do mundo, celebrando-o como exercício abstracto, paradoxalmente quase táctil. Questão filosófica que daí decorre: onde está o olhar do espectador? Ou, aplicando termos pictóricos: qual o seu ponto de fuga?