Crystal Castles
“III”
Polydor / Universal
3 / 5
A procura de humanidade na máquina é demanda antiga, com paradigma inscrito em teses propostas pelos Kraftwerk em finais dos anos 70, daí decorrendo todas as possíveis variações, reflexões e transformações que a história dos últimos 35 anos da música electrónica nos tem mostrado. Filiados numa atitude lo-fi, que tão bem expressaram no promissor álbum de estreia editado em 2008, os canadianos Crystal Castles descobriram ao segundo disco – ao qual também chamaram Crystal Castles, e que editaram em 2010 – que havia caminhos a explorar para lá das suas abordagens iniciais a formas. Sem perder uma relação de interesse pelo ruído, o gosto pelo contraste e pelas características texturais com que se apresentaram inicialmente, o segundo álbum assinalava uma etapa de evolução na qual aplicavam em alguns momentos a sua linguagem e princípios a uma escrita mais arrumada, o belo Celestica surgindo como expressão maior das conquistas que então alcançaram. Há por isso o que parece ser um certo jogo pelo seguro quando encaramos as propostas que lançam em III, o seu terceiro álbum agora editado. Mantendo firme uma lógica de construção sónica herdada do seu DNA de alma gótico e das suas raizes lo-fi , sugerindo ainda mais familiaridade com o universo dos jogos vídeo e curiosidade por uma música de dança avessa às estratégias de construção de gradações de euforia (que atormenta e aplica sinais de menores denominadores comuns a muita da produção mainstream atual), o alinhamento de III não conhece contudo o mesmo encantamento do álbum anterior, a maior afinidade das formas entre as canções não se materializando contudo no mesmo sentido de coesão que fez do disco de 2010 um marco na sua discografia. Sem a coexistência de imagens mais extremadas como no álbum anterior, III acaba por dosear ideias num caminho mais arrumado, as linhas algo banais de um Sad Eyes sendo bom exemplo de uma composição que por vezes resvala para o piloto-automático. E salvo em momentos como escutamos em Wrath of God, Affection ou Child I Will Hurt You (intrigante balada digital assombrada), o novo álbum não faz mais do que gerir (com competência, é verdade), um compasso de espera numa carreira que, convenhamos, prometia mais...