quinta-feira, dezembro 06, 2012

Discos Pe(r)didos:
Momus, Don't Stop The Night


Momus 
“Don’t Stop The Night” 
Creation Records
(1989)

Hoje reduzido a um estatuto de (discreto e distante) culto, Momus foi outrora um nome de primeira linha no panorama “alternativo” da segunda metade dos anos 80 e inícios dos 90. Projeto de um homem só – ou seja, o escocês Nick Currie – Momus (nome que pisca olho a uma entidade maldita da mitologia grega) foi um nome que surgiu pela primeira vez em meados dos 80, depois de Currie, que havia abandonado a universidade para formar os The Happy Family (com vários ex-elementos dos Joseph K), ter dissolvido o grupo pouco depois da edição do seu primeiro e único álbum. Depois de alguns singles (num deles, Nicky, gravando três espantosas versões de canções de Jacques Brel), estreia-se como Momus em Circus Maximus, álbum que justificadamente cativa atenções. A bordo da Creation Records (que então começava a juntar um dos mais interessantes dos catálogos independentes da época) editou nos anos seguintes um tríptico de álbuns através dos quais desenvolveu e aprofundou uma personalidade provocadora, aliando temas com alma tabu a uma visão pop que assimila referências e citações que escuta entre a música e a literatura e depois define uma personalidade ímpar. Depois de The Posion Boyfriend (1987) e Tender Pervert (1988) é em Don’t Stop The Night que, em 1989, grava aquele que é (ainda hoje) o seu melhor álbum. Verdadeiro monumento pop, onde não falta sequer – entre Hairstyles of The Devil ou Lifestyles of The Rich and Famous - um piscar de olho ao som dos Pet Shop Boys, que o apontaram então como uma das maiores promessas, um mergulho por ecos hi-nrg (no tema título), um leve tempero electro funk em Righthand Habbit ou o então emergente hip hop em How Do You Find My Sister?. Aparentemente festivo, o alinhamento encaminha-nos contudo na sua reta final para patamares progressivamente assombrados, um certo desencanto e melancolia acabando por habitar o destino final de uma coleção de canções feitas de personagens incómodas, algumas mesmo repelentes. Figuras que traduzem ecos de um mundo dominado pelo conservadorismo definido pelo eixio Reagan/Thatcher e que desafiavam assim todo um quadro de valores como em tempos fizera (o então ainda vivo) Serge Gainsbourg, herói que Momus celebraria no álbum seguinte, o muito controverso, mas musicalmente desafiante, Hipopotamomus, de 1991.