Há os artistas. E também os artolas... E a dona Cecilia Giménez certamente não pertence ao primeiro grupo (não significando essa exclusão que a esteja a encaixar no segundo, até porque Artolas, se bem me lembro, era o gato da minha tia Teresa). Os meses passaram, e a euforia mediática que envolveu o dito “restauro” do ‘Ecce Homo’ numa igreja em Borja já vai longe (as noticias diluem-se cada vez mais depressa no tempo, é verdade...), mas ainda há dias se soube (mas já sem o mesmo festival noticioso) que a mesma senhora foi chamada a um lugar de direção criativa numa agência de publicidade... Este caso de destruição de um bem patrimonial – que foi o que aconteceu – gerou entusiasmo mediático e dividiu opiniões, o pitoresco da coisa (como a recente contratação o parece confirmar) sobrepondo-se frequentemente a um mais sério debate sobre a arte, o verdadeiro significado de restauro e, até mesmo (e independentemente das “qualidades artísticas” daquele Ecce Homo (o original, claro), o sentido da imagem e toda a carga histórica e simbólica que representa para o cristianismo. Fosse uma obra – até mesmo uma peça menor – num museu, e era o verdadeiro Ai Jesus do vandalismo. Um grafitti numa parede branca de uma igreja ou monumento causaria (justificado) horror global. Assim, foi apenas uma velhinha “bem intencionada” que julgou que ia fazer um remendo numa pintura que tinha buraco... E tão grave quanto a sua ação foi o modo como a maioria das notícias publicadas sobre este caso focaram sobretudo o insólito e não todo um mundo maior de questões que moravam por debaixo daquelas pinceladas que transformaram uma representação de Cristo (mesmo que ensopada em clichés e despida de personalidade) num borrão de parede.
Sobre o assunto podem recordar aqui o que na altura o João disse sobre o caso.