quarta-feira, novembro 28, 2012

Novas edições:
Lana del Rey, Paradise EP


Lana del Rey 
“Paradise EP” 
Polydor/ Universal Music
4 / 5

Há pouco mais de um ano o single que juntava Video Games e Blue Jeans colocava Lana del Rey como uma das promessas de 2011. Mas quando, em inícios de 2012 entrou em cena Born To Die, as opiniões dividiram-se, as críticas mais negativas apontando-a como se fosse fantoche fabricado por uma editora para vender discos... Sem a considerar como tal, a verdade é que pela sua música (e seu percurso pessoal) passam ideias de artifício e de reconstrução de si mesma que, convenhamos, têm história antiga nos espaços da música popular. E isso é mau? Lembro apenas (e uma vez mais) que Scott Walker começou por cantar Pretty Girls Everywhere numa primeira geração teen dos Walker Brothers e que David Bowie foi Davie Jones numa bandinha mod de segunda linha antes de se reinventar e ser quem acabou por ser... E, sem querer comparar Lana a estes dois “deuses”, sublinho apenas que mudar nunca fez mal a ninguém. Mudar de nome, mudar de linha musical, até de colocação vocal... Porque não? Realmente frágil foi, é verdade, a sua constrangedora prestação no Saturday Night Live que tanto deu que falar, mas quem a viu ao vivo no Meco este ano reparou que, entretanto, ganhou outra confiança e segurança vocal na hora de cantar ao vivo (e se há “culpa” nesta história, foi de quem a resolveu levar para um espaço como daquele programa claramente antes do tempo certo para o fazer, ou já se tinham esquecido que a pressa é inimiga do bom?). Confesso ter mais dificuldade lidar com a coexistência no mesmo espaço daquele sentido de encantamento Hollywoodesco, sofisticado e melancólico, com episódios em algumas letras que parecem coisa de aluna de liceu entre amigas. Mas, enfim, deixe-mo-la ter os 26 anos que tem, confiando que a tempo arrumará essas expressões e imagens (que destoam com a eloquência cénica e lírica que domina o que nos mostra) na caixinha das memórias. Quase um ano depois, Lana del Rey saltou do patamar de promessa em berço próximo da cultura indie para o mainstream. Coisa que incomoda sempre muita gente, sobretudo os que aplicam uma certa ideologia à la talibã na sua maneira de lidar com a música e no modo de entender o gosto e opções diferentes nos outros... Lana fez-se uma das vozes mais notadas do ano. Dificilmente reunirá os céticos com os admiradores em torno do que daqui em diante fará. Já vimos esta história... (e vamos voltar a ver)... E mais não tem senão se seguir o seu caminho. É o que faz com um EP – que entre nós surge integrado num repackage do álbum deste ano, apresentado como Born To Die – Paradise Edition – no qual apresenta oito novas gravações, entre as quais a versão de Blue Velvet que recentemente usou numa campanha publicitária. Se nessa versão se acentuam as afinidades com os universos Lynchianos de que a música de Lana del Rey dava já sinal desde há um ano e em I Sing The Body Eletric (restando saber se aqui cita Walt Whitman ou Ray Bradbury) presta homenagem a Elvis e Marilyn, as restantes composições que nos mostra em Paradise não são senão expressões naturais de continuidade face ao que nos deu a ouvir em Born To Die. Resistindo ao que poderia ser um caminho mais pop que podíamos ler nas entrelinhas de um National Anthem ou Lolita, optou por manter o alinhamento no patamar do mood central definido pelo disco que editou em janeiro. Afinal estamos num EP complementar a uma ideia e não, para já, entregues a uma qualquer tentativa de partida para novo rumo... Com momento central em Ride, onde conta com Rick Rubin na produção, o EP é assim como se fosse um encore para o que Born To Die colocou em cena. Quem a vê como maquinação de uma indústria que fabrica estrelas, vai fazer questão de demolir a coisa com requintes de malvadez. Quem nela reconhece antes uma invulgar estrela feita (sim, porque já o é), que celebra no presente a nostalgia de um glamour desaparecido nesta idade em que a cultura online privilegia a construção de pequenos nichos e do talhar do gosto individual (por oposição aos efeitos da cultura blockbuster do século XX) vai reconhecer que aqui moram oito novos motivos para cimentar uma voz que marcou 2012. O futuro dirá, a seu tempo, se daqui nascerá ou uma voz maior (e uma carreira)... Para já, o ciclo iniciado em 2011 com Video Games e Blue Jeans encerra de forma coerente. Uns vão gostar do caminho que tomou, outros nem por isso. E ainda bem, que as unanimidades metem medo e contrariam um dos valores mais caros a cada ser humano: a individualidade.