quarta-feira, outubro 17, 2012

50 anos de James Bond,
'From Russia With Love', 1963


Há um tremendo salto a separar o algo ingénuo Dr. No do filme narrativa, cénica e tecnicamente mais exigente que se lhe seguiu logo no ano seguinte. From Russia With Love (que entre nós estreou com o título 007 – Ordem Para Matar), novamente realizado por Terence Young e protagonizado por Sean Connery, coloca em cena uma série de elementos que se transformariam pouco depois em referências do cânone James Bond, da presença de Q (e dos seus inventos e armas inesperadas) à canção-tema que, por enquanto, ainda não surgia nos créditos de abertura (antes nos finais, com breve citação a meio do filme e uma variação orquestral no início). É um dos melhores filmes da série, ágil no estabelecimento de uma trama atenta ao quadro geopolítico da época, mas sem prescindir de uma teia de cúmplices e inimigos que caracterizariam muitos títulos posteriores da série.

Ao contrário do que sucedera em Dr. No onde, além de algumas cenas londrinas de apresentação do agente 007 e dos serviços secretos para os quais trabalha toda a ação se centrava na Jamaica, From Russia With Love estabelece uma grelha de geografia global que passaria a caracterizar filmes futuros da série. Baseado num romance de Ian Flemming originalmente publicado em 1957, o filme deu assim outra vida àquele que John F. Kennedy apontou como sendo um dos seus dez livros favoritos. De resto, a adaptação do romance ao grande ecrã foi mesmo o último filme que Kennedy viu antes da viagem a Dallas onde foi assassinado.

A trama desenvolve-se em volta de uma vingança contra James Bond por parte da SPECTRE, o grupo ao qual estava ligado Dr. No, o vilão do filme de estreia da série. E usa como isco para atrair as atenções dos serviços secretos uma máquina descodificadora na posse dos russos. Entra assim em cena o contexto de Guerra Fria (ausente em Dr. No) que, até à queda do muro de Berlim e a desagregação do bloco de Leste, visitará várias vezes os filmes de 007. Istambul, com momento de “postalinho” numa passagem pela basílica de Santa Sofia, é o centro geográfico da ação, com sequências que depois levam James Bond e a oficial russa que o “atraíra” à Turquia a Zagreb e a Belgrado, com sequências finais em Veneza. E é aí que entra em cena From Russia With Love, a canção interpretada por Matt Monro que assim encetou uma das mais significativas histórias de relacionamento entre a canção e o cinema.