A - É, por certo, um dos mais admiráveis portfolios produzidos, em anos recentes, nos espaços do jornalismo de moda — chama-se "Super Linda", surgirá nas páginas de Setembro da revista W., e resulta da colaboração de uma das figuras emblemáticas das modernas top models, a canadiana Linda Evangelista, com aquele que mais e melhor a fotografou, o americano Steven Klein.
B - A referência aos super-heróis envolve uma rede de fascinantes ambivalências. Desde logo, porque promove a incrustação da pose feminina num universo na sua quase totalidade (e, por certo, na sua ideologia) dominado por um imaginário de raiz masculina; depois, porque trata cada personagem como uma entidade que não esconde, antes exibe, a teatralidade da sua materialização; enfim, porque encena o corpo como um instrumento do seu próprio artifício, desnudando-o no mesmo gesto com que lhe sobrepõe uma nova pele.
C - Em tempos de adoração beata da "imaginação" digital, o fotógrafo cria, assim, uma galeria de bichos humanos em que a ostentação intemporal do artifício não exclui, antes parece ampliar, um desafio eminentemente contemporâneo. A saber: a possibilidade de uma corporeidade insólita, enraizada num novo e visceral realismo. Realismo de quê? De reconversão do simulacro na apoteose da sua própria confissão estética. Nada a que o percurso de Klein seja estranho: agora, podemos mesmo reconhecer que "Super Linda" tem um momento decisivo de antecipação nesse genial portfolio/video/instalação intitulado X-STaTIC PRO=CeSS (2003), resultante da colaboração de Klein com Madonna.
>>> Página de models.com sobre Linda Evangelista.
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| X-STaTIC PRO=CeSS 2003 |