Blur
“13”
Food / EMI Music
4 / 5
Mais que encontrar um caminho, o álbum de 1999 dos Blur é um espaço de experiências e de encruzilhadas. Talvez pouco focado, mas certamente um dos discos mais desafiantes do grupo.
A libertação do espartilho brit pop tinha sido conquistada com Blur que, em 1997, dera finalmente à banda um reconhecimento nos EUA que já tardava. Pouco dados a repetir soluções (até porque certamente não se tinham esquecido do que acontecera quando tinham feito de The Great Escape uma continuação direta de Parklife), lançaram as bases para nova demanda, chamando a bordo, após longa colaboração com Stephen Street, o produtor William Orbit (com reconhecida experiência nos campos das electrónicas e suas periferias, tendo trabalhado no ano anterior em Ray of Light, de Madonna). Mas nem só de ingredientes “técnicos” viveu o tempo que assistiu ao nascimento de 13, uma vez que o clima emocional vivido entre a banda (a separação de Damon e a nova vida do vocalista, partilhando um apartamento com Jamie Hewlett, que entretanto se juntara a uma antiga namorada de Graham... e parece coisa de telenovela, mas foi mesmo assim) acabou por definir os caminhos de um álbum mais melancólico, magoado, que reflete sobretudo a perda, a dor, o fim... De resto, canções como 1992 (uma antiga maquete composta anos antes e que Damon reencontrara numa cassete) ou o magnífico No Distance Left To Run são verdadeiros cantos de dor e separação, que por si só já justificariam a inclusão deste disco numa lista de breakup albums... Musicalmente o ambiente de trabalho foi intenso e livre, mas em nada uma expressão simples das linguagens mais habituais em William Orbit. Ou seja, os Blur não fizeram um álbum electrónico. Mas, mais que nunca, trabalharam texturas e cenografias (escute-se Caramel), encontrando em Battle um dos maiores feitos da sua discografia. O álbum é contudo mais coeso nos temas e nos climas sugeridos que nas formas como se expressa. B.L.U.R.E.M.I. reencena (algo inconsequentemente) a face mais punk de outras etapas na vida (e interesses) da banda. Coffee & TV herda linhagens pop, resultando contudo em mais um belíssimo single. O álbum foi apresentado por Tender, balada de travo gospel que mora hoje, merecidamente, entre os clássicos maiores da obra dos Blur. Mais que um terreno encontrado, 13 é um álbum de demandas. Como, de certa forma, de um retrato, instantâneo de um work in progress se tratasse... E sugere diretamente dois episódios seguintes. Por um lado, em Mellow Song escutamos um definitivo aperfeiçoar da escrita de baladas de Damon, que quatro anos depois ainda melhores resultados nos daria em Think Tank. Por outro, ao escutar Trailer Park sentimos claramente o que hoje reconhecemos como os primeiros passos de uma história que ganharia pouco depois forma nos Gorillaz (projeto liderado por Damon e Jamie Hewlett). De resto, entre os extras desta reedição conta-se a maquete de I Got Law, que seria a base de trabalho da qual nasceria, precisamente, Tomorrow Comes Today, o single de estreia dos Gorillaz.
Além deste extra, o CD adicional junta ainda alguns lados B (uns melhores, outros nem por isso) e o por vezes injustamente ignorado Music Is My Radar, single de 2000 (não representado em nenhum álbum de originais) que revela um momento ao estilo beco-sem-saída, com os Blur a mergulhar mais ainda no trabalho com eletrónicas. O álbum seguinte tomaria outras direções. Mas que interessante que seria um álbum de Blur que eventualmente nascesse deste single...