quinta-feira, agosto 30, 2012

Discos Pe(r)didos:
The Tyrell Corporation, North East Of Eden


The Tyrrel Corporation 
“North East of Eden” 
Cooltempo 
(1992)

A revolução criada pela música de dança em finais dos anos 80 teve profundo impacte em várias frentes. E na alvorada dos noventas vários híbridos ganharam forma, ensaiando e cruzando linguagens, entre as consequências diretas dos acontecimentos nos universos da house e periferias e escolas mais “clássicas”, da pop ao rhythm’n’blues (e por aí adiante). Hoje claramente esquecidos, os Tyrrel Corporation brilharam por momentos, sobretudo ao som do single The Bottle (de 1992). Mas vale a pena, mesmo não sendo um daqueles monumentos mais inesquecíveis do seu tempo, voltar a focar algumas atenções sobre North East of Eden, o primeiro dos seus dois álbuns, onde canções de alma pop e com evidente interesse pelos caminhos da música soul, nasciam sob arquitetura rítmica de raiz colhida na house music. Eram uma dupla. Joe Watson cantava e assegurava parte da composição. Tony Barry escrevia as letras e era o principal teclista (na verdade ambos tocavam teclados). Oriundos de Redcar (no nordeste inglês), mudaram-se, um de cada vez, para Londres e, com os mais variados e nada musicais dos empregos, financiaram tempo de estúdio para gravar a sua música. Estrearam-se em single com Six o’Clock. Cativam atenções da Cooltempo e avançam para a criação de North East of Eden, um álbum que não esconde a sua fisionomia pop e um desenho de linhas diretamente assimiladas da cultura house, apesar de transportar genéticas que ora passam por memórias que vão da philly soul ao disco sound. The Bottle, a faixa central do alinhamento, é um parente próximo do que os keyboard wizzards de inícios dos noventas (como Adamski) vinham a ensaiar, contando com o valor acrescentado de ua voz de inspiração soul (dispensando-se todavia os solos de harmónica e guitarra que habitam a reta final da canção). O alinhamento avança depois por vários caminhos, da house à la Mr Fingers (com presença destacada do piano) cruzada com disco (de tempero Philly soul) em Six 0’Clock a uma revisão, na era house de memórias R&B dos sessentas em Walking With a Stranger, não esquecendo as mais diretas consequências do “efeito” Soul II Soul no panorama brit de então em Ballad of British Justice e Lies Before Breakfast ou uma mais colorida expressão pop de heranças soul e disco em Grapes of Wrath. Cantavam a noite e os copos, mas também o mundo ao seu redor, não deixando de comentar o país em pontuais afloramentos de consciência política que assim partilhava espaço com um terreno de festa e libertação. Bem mais interessante que o segundo – e quase ignorado Play For Today, de 1994 – o álbum de estreia dos Tyrrel Corporation (sim, o nome é diretamente inspirado em Blade Runner) faz agora 20 anos que foi editado. Sem expectativas maiores, vale a pena (pelo menos) conhece-lo.