quinta-feira, agosto 23, 2012

Discos Pe(r)didos:
Coldcut, Philosophy


Coldcut 
“Philosophy”
Arista 
(1993)

Tudo começou numa mítica loja de discos em Berwick Street, em pleno Soho londrino. A Reckless Records... Era lá que trabalhava Jonathan More, apresentava um programa na Kiss FM e era ainda um DJ em part time com trabalho conhecido na cena rare groove londrina em meados dos oitentas. Entre os clientes habituais da loja estava Matt Black, um antigo professor que trabalhava agora como programador de informática. Tinha criado uma mixtape para a Capitol Radio e mostrou-a a More. Conversa puxa conversa, mistura puxa mistura, e estavam a trabalhar juntos num tema que pouco depois lançavam num white label. Criaram os Coldcut ao mesmo tempo que começaram a ter juntos um programa de rádio. Com ouvido com “olho” atento, tornam-se dos primeiros criadores reconhecidos das movimentações house britânicas e revelaram nos tempos que se seguiram uma série de vozes, com elas somando os primeiros “casos” de popularidade dos Coldcut. Usam um sample de Ofra Haza numa remistura de Paid in Full de Eric B & Rakim. Editam Doctorin' The House com Yazz como vocalista. E People Hold On com Lisa Stansfield... Desta chuva de estrelas nasce o convite para um primeiro álbum para uma grande editora. E assim surge, em 1993, Philosophy... A euforia house e acid house tinha já cedido o fulgor do entusiasmo à zona chill out da ambient house. O mesmo gosto por caminhos do jazz e do funk que alimentara o rare groove ganhara nova vida através do acid jazz. E, depois do álbum de estreia dos Soul II Soul (em 1989), a soul estava novamente na ordem do dia em território britânico. E é neste clima, e na confluência destes caminhos, que florescem as ideias que fazem o (extenso) alinhamento de Philosophy. Com momentos maiores nessa belíssima canção de travo acid jazz que é Chocolate Box ou numa magnífica versão do clássico Autumn Leaves, o álbum é uma interessante expressão do state of the art do conjunto de heranças que definem o gosto estrutural dos Coldcut, talvez pecando por alguma dispersão ao tentar convocar mais que os ingredientes necessários (como o dub de versão aqui incluída de Dreamer ou a base gospel de Peace and Love). Passou algo a leste das atenções. Mas perante alguns dos títulos então lançados por editora como a Talkin' Loud, Acid Jazz Records ou mesmo, pouco depois, a Mo'Wax, Philosophy destaca-se pela capacidade em talhar canções de linhas seguras e formas elegantes. Porque os Coldcut sabiam que não bastava convocar um clima jazzy e um certo saber na gestão dos ritmos para fazer um bom disco...