segunda-feira, julho 16, 2012

"Turn up the Radio": Madonna por Madonna

Turn up the Radio, hoje revelado [video], é mais um momento sintomático do jogo de espelhos com que Madonna concebeu o seu álbum MDNA (e também a digressão que ostenta o mesmo título). Dirigido por Tom Munro, surgem nele três sintomáticos mecanismos de citação que, para já, vale a pena registar:
1 - o retomar da encenação de uma situação de solidão face à pressão mediática (nesse aspecto, há no arranque de Turn up the Radio uma espécie de revisão paródica do início de Drowned World/Substitute for Love, realizado por Walter Stern, em 1998).
2 - o enfrentamento directo da difamação mediática (Madonna como "predadora" de jovens), transfigurado em paródia recorrente de todo o teledisco (com o automóvel, qual quarto fechado dos Irmãos Marx, a ser literalmente cheio de personagens "apanhadas" em movimento).
3 - enfim, o sabor italiano de tudo isto, não apenas com um sentido raro da paisagem (urbana e rural), mas também através de uma muito directa citação da cena de automóvel de La Dolce Vita (1960), de Federico Fellini [ver as duas imagens a seguir].


No final, para que não restem dúvidas sobre as ambivalências da fama (ainda e sempre a referência de Drowned World), Madonna é uma personagem só, no banco de trás do automóvel, visada pela  grosseria machista (em italiano...) do motorista: "A festa acabou, aperta o cinto, estúpida!" — é bom saber que dar a palavra à ignomínia, pode ser também uma maneira de expor a sua inanidade.