sexta-feira, junho 29, 2012

Reedições:
Talk Talk, The Colour of Spring


Talk Talk 
“The Colour Of Spring” 
EMI Music 
4 / 5

Podia ser entendido como um episódio de transição, estabelecendo uma eventual ponte entre uma ideia de canção pop com capacidade de chegar ao grande público (e fazer números nas tabelas de vendas, como de facto o fez, tornando-se mesmo o maior êxito da discografia do grupo) que dominara a sua obra anterior e um patamar de experimentação mais confiante, entre ecos do jazz e de noções de música ambiental, que ganharia forma no álbum seguinte. Mas The Colour of Spring, o terceiro álbum dos Talk Talk, é mais que apenas um momento de pensar mudanças, a obra em si marcando o seu tempo e sugerindo um ciclo de canções com a coerência de um todo. Um álbum, com principio, meio e fim, com uma alma própria, um som e uma identidade (estética e temática)... Não que os discos anteriores do grupo tenham sido meras somas de canções disponíveis, o belíssimo It’s My Life, de 1984, sugerindo já a noção de busca de uma coerência interna que, de facto, o destacou entre as demais criações pop do seu tempo. Em 1986 o que The Colour of Spring nos mostra é antes uma banda animada pelo desejo de aprofundar a busca de uma identidade, afastando-se por isso das linguagens mais unânimes do seu tempo, apostando antes na definição de um corpo instrumental mais clássico (com eventuais ecos de heranças mais livres de algum rock dos anos 70 mas sem perder a noção de forma da canção) onde as guitarras (elétricas e acústicas) e o som de um órgão (nas mãos de Steve Winwood) ganham protagonismo. As canções são assinadas pelo vocalista Mark Hollis e por Tim Friese-Green, e traduzem o aprofundar de uma escrita que já no álbum de 1984 revelara interessantes sinais de personalidade, em Chameleon Day sugerindo, discretamente o caminho que dois anos depois os levaria a The Spirit of Eden.