sexta-feira, junho 22, 2012

Reedições:
Paul Simon, Graceland


Paul Simon
“Graceland”
Sony Music
5 / 5

E então era o mundo... A cultura rock’n’roll, mesmo que tendo aberto canais de diálogo com outras músicas desde meados dos anos 50, raramente o fizera fora dos eixos de focos ou descendências da cultura anglo-americana. Na segunda metade dos anos 80 três figuras maiores do panorama pop/rock deram voz a outras músicas de outras latitudes e longitudes, abrindo espaço para um outro volume de atenções de novos públicos para um mais vasto leque de referencias. É claro que desde sempre houvera registos de fenómenos locais e ouvidos mais curiosos já conheciam as gravações de recolha de tradições de outras paragens distantes. Mas é sob novos focos mediáticos que o fenómeno da world music ganha outros adeptos e um mais evidente espaço de mercado (dos discos aos concertos e festivais) sobretudo a partir de finais dos oitentas e inícios dos noventas. Uma visibilidade que terá em parte sido fruto do mediatismo conquistado pelas aberturas de horizontes entretanto notadas em músicos como Peter Gabriel (que fundaria a editora Real World, essencialmente dedicada às músicas do mundo), David Byrne (que fundaria a Luaka Bop, editora com importante atenção por outras geografias) e Paul Simon. Este último não criou nem uma editora nem fez dessa curiosidade além-fronteiras um pilar estrutural da sua carreira futura. Mas quando em 1986 lançou Graceland, as suas canções levaram a música do Sul de África a um patamar de (re)descoberta que muito contribuiu para o cenário que então mudava.
Não foi a primeira vez que a canção pop ocidental visitou África, naturalmente, e podemos recordar gravações de Malcolm McLaren em inícios dos oitentas ou a própria presença de percussões (o chamado “Burundi beat” em alguma da new wave, dos Bow wow wow aos Adam and The Ants)... E vice-versa... Em África há muito que o afrobeat gerava discos marcantes e o Senegal se afirmava como um pólo de invenção de uma música moderna africana. Paul Simon não partiu por isso para uma aventura ao jeito de um pioneiro. Procurou, antes, reinventar a sua escrita de canções, onde se aliavam ecos da folk e de um saber de contador de histórias com os temperos instrumentais e vocais que resultaram não apenas de sessões de trabalho na África do Sul como da integração de uma multidão de músicos nos restantes episódios de vida em estúdio. Incluindo a presença marcante das vozes do coletivo Ladysmith Black Mambazu ou a participação de Youssou N’Dour (então ainda pouco internacionalmente conhecido) nas percussões, entre uma multidão de colaboradores, Paul Simon não procurou contudo fazer de Graceland um álbum “africano”, integrando antes elementos e referências numa coleção de canções com as suas marcas de escrita distintivas e com espaço para outros diálogos que se notam ora na contribuição pontual de Linda Rondstat em Under African Skies ou dos Everly Brothers no tema-título. Na altura Graceland levantou debate político (viviam-se ainda os dias do apartheid na África do Sul) e ganhou impacte ainda maior no mapa da cultura popular ao ser um dos grandes vencedores dos Grammys no ano seguinte, as vendas milionárias traduzindo a adesão em massa às canções, histórias e cenários. Vinte e cinco anos depois uma edição comemorativa junta ao disco uma série de extras (sobretudo interessantes as maquetes que destapam o véu sobre o processo criativo) e um DVD com o histórico Under African Skies, filme de Joe Berlinger.