sexta-feira, junho 01, 2012

Reedições:
Paul McCartney, Ram


Paul McCartney
“Ram”
Hear Music / Universal
4 / 5

O fim dos Beatles já não era notícia quente. John Lennon e George Harrison tinham, cada um, lançado álbuns absolutamente marcantes no ano que se seguiu à separação. O primeiro no formalmente simples mas verbal e tematicamente intenso Plastic Ono Band. O segundo no assombroso All Things Must Pass, um dos feitos maiores dos fab four depois dos Beatles. Ringo tinha editado Sentimental Journey. E Paul McCartney assinalara a sua a estreia com um álbum ao qual deu o seu nome que, editado no momento do anuncio do seu afastamento dos Beatles, conseguira cativar a atenção dos seus admiradores, mas que estava longe do seu melhor (o tempo encarregando-se de o arrumar entre um episódio com mais importância na cronologia do seu percurso que nos feitos musicais que em si encerra). Reza a mitologia pop que McCartney e a sua mulher, Linda, se retiraram então para a sua casa de campo em Mull of Kintyre onde esboçaram novas canções que completariam mais tarde em Nova Iorque na presença de uma série de músicos de estúdio. Sem um apelo pastoral (que o retiro campestre poderia sugerir), mas definindo linhas algo ásperas, mesmo rudes, distantes da sofisticação polida da vida urbana), Ram é o retrato em disco dessa etapa na vida do ex-Beatle, representando aquele que foi o seu primeiro disco a solo digno de comparação não apenas com o passado entre a sua antiga banda mas com o que os ex-parceiros estavam a realizar em nome próprio. Quase 40 anos depois o segundo disco a solo de Paul McCartney, que surge co-assinado com Linda McCartney, é um espaço de procura e liberdade. Houve já quem o apontasse como um dos primeiros discos “alternativos” (se bem que nesse campeonato os Velvet Underground começaram a marcar pontos quatro anos antes), mas a verdade é que, apesar da fresta mais suave que se escuta em Uncle Albert / Admiral Halsley (escolhido como primeiro single), o beatlesco Eat At Home, o do apelo folk de Heart of The Country ou o tom épico de Long Haired Lady, Ram é essencialmente um disco de intensa e áspera busca de outras formas de entender a escrita de canções em clima elétrico. Muito se disse na altura se temas como 3Legs, Too Many People ou Dear Boy seriam “recados” enviados aos antigos companheiros, nomeadamente Lennon (um pouco como este terá “devolvido” mimos em How Do you Sleep?, do álbum Imagine)... O certo é que, mesmo não definindo o caminho central da obra futura de McCartney, Ram antecede o que seriam os Wings, ao juntar Paul e Linda a Denny Seiwell, que seria o futuro baterista da banda que se estrearia em disco poucos meses depois, ainda em 1971, em Wild Life. Pena que a versão “económica” desta reedição remasterizada (porque há uma outra, como quatro CD e um DVD) não junte um booklet informativo aos dois discos (o primeiro com o álbum, o segundo com singles da época e temas inéditos gravados nestas mesmas sessões).