Sigur Rós
“Valtari” Parlophone / EMI Music
4 / 5
“Valtari” Parlophone / EMI Music
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É certo que o período que separa Með suð í eyrum við spilum endalaust (2008) de Valtari não foi passado em sessões brainstorming em busca de uma saída para um rumo que parecia, pela progressão dos mais recentes acontecimentos, fadar os Sigur Rós a um progressivo esmorecimento da força criativa que, quando neles foi reconhecida em inícios dos anos zero, chamou as atenções de muitos para uma ideia de personalidade forte que rapidamente cativou admiradores e num par de anos se fez mais que um pequeno culto. Limitaram-se, na verdade, a viver a pausa como terreno para respirar espaços de vida pessoal e experimentar algumas ideias fora de bordo – as mais visíveis tendo sido as do vocalista Jónsi num disco com Alex Sommer e num primeiro álbum a solo editado em 2010. Na hora do reencontro o resultado traduz, por um lado, a soma essencial das quatro personalidades que se juntam, desde que formaram a banda, para fazer dos Sigur Rós uma entidade coesa, demarcada e com características inevitavelmente vincadas. Mas cada qual trouxe certamente novas ideias na bagagem, a experiência mais vincada na exploração de texturas e ambientes que Jonsí viveu com Alex Sommers no projeto paralelo Riceboy Sleeps parecendo ter encontrado nas novas sessões de trabalho um solo fértil que as assimilou e integrou num conjunto de novas composições que recuperam ainda a carga mais onírica dos dias de Agaetys Byrjun. Valtari revela uns Sigur Rós menos interessados nos jogos de contrastes que marcaram algumas das suas composições anteriores e troca os ocasionais surtos de intensidade elétrica de outros tempos por uma placidez que domina os cenários de fio a pavio e onde cordas e electrónicas conhecem maior protagonismo. Luminoso, mas tranquilo, interessado na criação de espaços, revelando afinidades com um sentido plástico que em tempos reconhecíamos em alguns discos de uns Dead Can Dance ou Lisa Gerrard, Valtarí é um mundo de visões que as imagens que a capa revela sabem traduzir. E se a força da comunicação dos Sigur Rós passa precisamente pelas imagens (que lhes abrem caminho à escrita das letras e a nós a sua possível leitura por sugestão), Valtari é uma exposição de quatros feitos de tons suaves, luz e linhas mais esboçadas que vincadas. E dá-nos o melhor momento em disco do grupo desde o histórico Agaetys Byrjun.