Afinal, também as notícias sobre a morte de Lázaro são francamente exageradas... E não só porque a Bíblia nos dá conta do milagre de Jesus. A apresentação do restauro de A Ressurreição de Lázaro (1609), de Caravaggio, é um daqueles eventos que relança a nossa crença (tão abalada) na perenidade da arte e também no seu poder encantatório.
Dir-se-ia que, ao sabermos que o quadro foi apresentado em Roma, depois de um minucioso trabalho de limpeza e recuperação, reencontramos uma ilusão de ordem maravilhosamente gratificante — a história da humanidade seria um permanente jogo de acumulação e perda, perdição e reordenação. Mais do que isso: podemos imaginar que, num plano ideal, o nosso olhar se sobrepõe aos primeiros olhares que contemplaram a obra-prima de Caravaggio. Como se, por momentos, na confusão gratuita de mensagens que habitamos, tivéssemos direito a uma pausa. E à sua utopia de redenção.
>>> Obras completas de Caravaggio.