quinta-feira, junho 07, 2012

Em conversa: Sigur Rós (3/3)


Continuamos a publicação de uma entrevista com Georg Holm, dos Sigur Rós, feita por ocasião do lançamento de Valtari e que serviu de base ao artigo ‘Visões suaves que chegam de um país a vencer a crise, publicado na edição de 30 de maio do DN.

Desde cedo ficou claro que os Sigur Rós eram uma banda atenta às imagens. Pensam em imagens logo na etapa de composição? 
Sim. Quando escrevemos as letras tudo vem muito de atmosferas, de sentimentos e de imagens mentais. E quando compomos música acontece o mesmo. É sempre melhor sentir e visualizar imagens, e assim podemos partilhar as experiências da música.

Alex Somers vem precisamente do mundo das imagens e com o tempo tornou-se numa presença cada vez mais importante nos Sigur Rós. Começou por desenhar T-shirts e a trabalhar no grafismo dos discos. Mas surge como co-produtor em Valtari
Neste disco foi uma presença importante, sim. Apesar de gostarmos muito do que fazemos, estávamos a encontrar algumas dificuldades em focarmo-nos a nós mesmos e à música. E ele foi mesmo como uma âncora para este disco. Teve paciência para se sentar, misturar... Quando estávamos desfocados saíamos, ele ficava a trabalhar e quando voltávamos ouvíamos o que tinha para nos mostrar e dizia o que deveríamos fazer, dava sugestões... Foi uma grande ajuda neste disco.

Foi um pouco como ter alguém que vem de fora da banda mas que, na verdade, não está assim tão longe? 
É precisamente isso.

A música chamou atenção de muita gente para a Islândia. Os islandeses sabem da importância que os seus músicos tiveram na visibilidade que o país hoje tem? 
As vezes penso nisso. Não sei se as pessoas se aperceberam disso. Eu apercebi-me, sim. Sei que representamos a Islândia e sinto um grande orgulho nisso.

A sua visão do que é a Islândia mudou com as viagens que entretanto fez e as opiniões que vai escutando pelo mundo fora? 
É uma boa questão... Eu tinha-me mudado para Inglaterra por uns tempos e depois vivi em Espanha. Quando regressei senti que gostava de viver na Islândia. Osso n tem a ver com a banda. Mas a Islândia é um lugar bom para se viver.

O que o chama de volta? 
É um lugar pequeno. Não por ser pequeno, mas sub-povoado. Não são muitos os islandeses. Gosto do sentido de comunidade do lugar onde vivo. Todos se conhecem. Os meus filhos passam a rua para brincar com os outros. Conheço os pais deles, às vezes jantamos juntos. É um lugar feliz. É claro que há coisas de que não gosto.

O ritmo de trabalho que entretanto adotaram permite-vos ter uma vida pessoal compensadora? 
Tivemos parados algum tempo, é verdade. Mas antes de parar estávamos a trabalhar muito, a dar concertos, a gravar, a fazer projetos paralelos. E isso via-se. Estamos a ficar mais velhos, todos temos famílias e penso que nos apercebemos de que temos de fazer as coisas com um ritmo certo. Acho que o encontrámos. Para fazer o que gostamos de fazer sem desaparecer daqueles que gostam de nós.