Continuamos a publicação de uma entrevista com Georg Holm, dos Sigur Rós, feita por ocasião do lançamento de Valtari e que serviu de base ao artigo ‘Visões suaves que chegam de um país a vencer a crise, publicado na edição de 30 de maio do DN.
Os Sigur Rós têm um som muito característico. Essa ideia der identidade pode ser fardo?
Não é um fardo. Quando se juntam as quatro pessoas que fazem esta banda numa sala para criar algo novo, é uma coisa muito natural. Fazemos as coisas juntos. Não acontece um de nós chegar a estúdio e dizer que escreveu uma canção...
Não mudaram os métodos de trabalho ao longo destes anos?
Trabalhamos da mesma forma. O processo criativo mantém-se semelhante. Talvez tenha evoluído e mudado ligeiramente... O que tem mudado é o processo de gravação dos álbuns. Nunca gravámos dois discos da mesma maneira. Este disco foi gravado em vários lugares, em vários estúdios, ao longo de um intervalo significativo de tempo. Teve a sua própria vida.
Mesmo com o mesmo método de trabalho, a cada disco procuram certamente novas experiências. Há neste disco mais eletrónicas, por exemplo. Como definem esses caminhos, como tomam as opções?
Tínhamos escrito as fundações das canções quase todas segundo os métodos habituais. E algumas das coisas surgiram por acidentes. Encontrámos um som... Num sampler ou em algo que nos tenha interessado naquele momento e evoluímos daí em diante. Mas é verdade, há um pouco mais de eletrónicas que habitualmente. Não sei se o fizemos de propósito. Creio que foi mais uma experimentação.
Entretanto podiam ter começado a cantar em inglês. Porque mantiveram o islandês? Como resistiram?
Ninguém nos pediu para cantarmos em inglês. Mas entre nós falámos nisso. Até chegámos a escrever em inglês. Mas não sei porque rezão, no final acabamos sempre a cantar em islandês. Talvez seja mais fácil. E é mais confortável para o Jonsi... E é uma língua interessante de trabalhar, o islandês. E tentamos escrever boas letras. Mas nunca foram muito bem traduzidas.
Investem esse trabalho na escrita, mas a maioria dos vossos admiradores não entendem as palavras, isso não pode ser frustrante?
O pior de tudo é que muita gente usa o google translator para traduzir as letras. E o islandês é das piores línguas para traduzir no google translator... Estamos a pensar fazer uma boa tradução das letras neste disco.
Foram surpreendidos quando vos começaram a ouvir e cantar mesmo sem vos entender?
O velho cliché da música ser uma linguagem universal não é um cliché. É mesmo uma realidade. E ficámos surpreendidos, sim. Especialmente quando começámos a tocar fora da Islândia e víamos muita gente junta a cantar em islandês. Achámos isso espantoso e muito poderoso. A tentar cantar connosco mesmo sem entenderem uma palavra. E começámos a entender então que isso acontecia porque a música falava por si mesma. Mas escrevemos as letras ouvindo as músicas e em brainstorming. Escrevemos sobre o que se sente e sobre imagens mentais que surgem. Muitas vezes estamos a ver o mesmo, a experimentar as mesmas emoções, o que é incrível. Vemos a música da mesma maneira e isso ajuda a escrita das letras.
(continua)