terça-feira, junho 05, 2012

Em conversa: Sigur Rós (1/3)


Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com Georg Holm, dos Sigur Rós, feita por ocasião do lançamento de Valtari e que serviu de base ao artigo ‘Visões suaves que chegam de um país a vencer a crise, publicado na edição de 30 de maio do DN.

Nos últimos anos, quando ouvimos falar da Islândia em Portugal ou é pela erupção de um vulcão (com consequências em toda as rotas aéreas no Atlântico Norte e Europa), pela música (a vossa, a de Björk, e alguns outros mais) ou pela crise económica. De resto, foram preocupantes as notícias que deram conta de um país em falência... 
O pior foi ver os políticos a mentir. Houve uma altura em que as pessoas não sabiam o que ia acontecer. Havia medo. Foi estranho... Quando começou estávamos a tocar nos EUA e um dos elementos da nossa equipa veio contar-me, à porta do hotel, que o governo tinha tomado conta de um banco. E era o meu banco! Perguntei-lhe o que é que isso queria dizer, mas ele não sabia. Houve uma altura que media medo... Mas a Islândia está a conseguir ultrapassar tudo isto rapidamente e de uma forma positiva.

As noticias dão, de facto, conta de sinais de recuperação... 
Estamos a recuperar. Mas depende das pessoas que questionamos. Muitas pessoas falam de recuperação e os lucros estão a aumentar... Parece haver mais estabilidade nos bancos, que parecem estar a lidar com as coisas de uma forma mais responsável. Há pessoas a ser interrogadas e outras a ser levadas a tribunal por inside trading...

Um sentido de justiça? 
Sim e não. Ainda há muita gente que ficou sem emprego, sem casa, porque os bancos forram irresponsáveis. Ofereciam coisas que pareciam lindas na forma de as pagar... Mas de repente algo aconteceu e as prestações triplicaram... Não é justo par as pessoas. Ainda há grandes patrões com salários altíssimos. Os islandeses parecem ser demasiado rápidos a esquecer. Somos peixes de água fria. O governo deixou-nos nesta posição, mas nas mais recentes sondagens já são os mais populares e não aqueles que nos tiraram rapidamente desta situação. É tão bizarro!

Esse clima de ansiedade vivido no país interferiu com as vossas vidas na hora de voltarem trabalhar como banda?
Não nos afetou. Começámos a gravar em 2009 e devo dizer que pessoalmente não fui afetado.

O disco não reflete por isso esse clima? 
Não reflete não...
(continua)