sexta-feira, junho 15, 2012

Egito, arqueologia e folclore de sempre


Das visões “folclóricas” dos tempos dos grandes épicos bíblicos às sementeiras de terror com efeitos especiais da era das múmias de fazer bilheteira, triste tem sido a sorte das representações das memórias do antigo Egito no cinema. Em 1980 o realizador Franklin J Schaffner (o mesmo de O Planeta dos Macacos ou de Patton), teve meios para poder fazer a diferença. Mas com um argumento dividido entre pontuais boas ideias e uma mão cheia de lugares comuns, com um elenco menor e uma inexplicável incapacidade em aproveitar os espaços onde fez a rodagem das sequências de exteriores, A Esfinge (assim se chamou The Sphinx quando estreou entre nós na altura) acabou em mais um episódio inconsequente...

O filme abre nos dias do reinado de Seti I, quando um grupo de assaltantes entra no túmulo de Tutankamon, surpreendido pouco depois pelo arquiteto do rei que, da experiência da tentativa de assalto compreende como poderá construir um lugar para o eterno repouso do seu faraó que permaneça longe da cobiça de assaltos. No Cairo, no presente, acompanhamos uma egiptóloga que prepara um trabalho sobre esse mesmo arquiteto sobre quem nada se sabe num período de dez anos que pretende investigar. Interpretada por Leslie-Anne Down, dá por si envolvida entre as teias de uma rede de contrabandistas de antiguidades, o responsável pela defesa do património e uma história que a levará a caminho do que poderá ser a maior descoberta arqueológica desde o momento em que Howard Carter encontrou o túmulo de Tutankamon.

O que mais custa no filme nem é a forma como o argumento tropeça no disparate nem o naipe de interpretações pouco estimulantes nem mesmo os episódios de comic relief que são protagonizados pelo guia turístico que acompanha a egiptóloga numa jornada de visita a Gizé e Sakara. O mal maior do filme é mesmo a forma como o realizador não sabe aproveitar os espaços que teve em mãos. Das salas do Museu do Cairo ao planalto de Gizé, aos templos de Luxor e Karnak, e até mesmo o Vale dos Reis, o desaproveitamento é de tal ordem que as episódicas passagens destes lugares pelo olhar da câmara mais parece dieta incidental para dissolver no filme que um interesse pelo espaço que acolhe uma história que nunca sabe se quer coisa de acção ou mistério falado... Talvez por isso mesmo seja A Esfinge um filme hoje perdido, a sua memória morando em edições em VHS, um DVD lançado em tempos nos EUA... E, às fatias, no YouTube...

Podem ver aqui o trailer do filme.