quinta-feira, junho 21, 2012

Discos pe(r)didos:
Carlton, The Call Is Strong


Carlton
“The Call Is Strong”
London Records
(1990)

Temos de recuar um pouco mais de 20 anos para encontrar o ponto de partida para um dos mais injustamente esquecidos dos álbuns que, juntamente com discos de Neneh Cherry, Soul II Soul, Young Disciples, Galliano ou Massive Attack, fizeram o melhor de um momento de redescoberta de raízes R&B num Reino Unido que começava a descobrir, assimilar e transformar ecos da cultura hip hop entre finais dos oitentas e inícios dos noventas. Na verdade Carlton deu voz ao primeiro single dos Massive Attack, Any Love, editado em 1988 sob o olhar atento da equipa de produção Smith & Mighty (que acabaria no lado B das versões máxi do single seguinte, Daydreaming, lançado já sob o acordo editorial que os levaria a encontrar em Blue Lines um dos discos-chave dos anos 90). Sem romper a ligação com Rob Smith e Ray Mighty, Carlton conseguiu um contrato com a London Records, juntando assim a sua voz a um momento que via, depois do sucesso do álbum de estrea dos Soul II Soul, um foco de atenções da indústria discográfica britânica pelo novo panorama soul local (que se manifestaria também na assinatura contemporânea de Omar pela Talkin’ Loud). Em colaboração com a dupla Smith & Mighty, Carlton editou em 1991 o álbum The Call Is Strong que, encontrando um espaço de diálogo entre as heranças vocais do género (na abordagem muito peculiar do falsetto do cantor) e um trabalho com electrónicas e com as formas rítmicas então em voga, se revela como uma das mais cativantes estreias de então. Mas apesar da boa opinião junto da crítica, das boas opções na hora de escolher singles – como Cool With Nature, Do You Dream ou a balada Love and Pain – e de propor canções invulgarmente inspiradas como We Vie, The Call Is Strong passou longe das atenções do mercado e em poucos anos acabou disco esquecido. Tanto que nunca conheceu qualquer reedição desde então. Talvez tenha chegado cedo demais, os jogos de afinidades com os Massive Attack que poderiam ser notados por altura da edição de Blue Lines não lhe valendo muito no 1990 que viu nascer o disco. Mas ninguém adivinha o futuro...

Depois do disco
Carlton surge como um dos convidados do álbum Clear (1995) dos Bomb The Bass, onde dá voz a One to One Religion. Edita ainda dois máxis e assina mais colaborações nos anos 90, mas não volta a lançar nenhum álbum. Como autor (assinando como Carlton McCarthy, assina mais tarde uma canção para Alison Moyet).