sexta-feira, junho 08, 2012

Afinal quem somos?


Estreou esta semana entre nós o filme que podemos entender (porque assim o parece mesmo ser) uma prequela do histórico Alien – O Oitavo Passageiro, que Ridley Scott apresentou em 1979. Os tempos são outros (os que vivemos e os que a narrativa observa) e o realizador nem procura revisitar as linguagens mais próximas do cinema de terror desse seu outro filme, nem procurar eventuais heranças das opções de ação e aventura do Aliens de James Cameron ou os jogos claustrofóbicos de David Fincher no terceiro ‘alien’. Do quarto e da salada russa de monstrinhos de Alien Vs Predator nem vale a pena falar, que um foi derrapagem e o outro é lixo da idade dos jogos de vídeo para quem não tem capacidade de usar mais de cinco neurónios.

Prometheus é, um pouco como o Star Trek de JJ ABrams, um “reboot”. Um recomeço. Que respeita a mitologia, os espaços e algumas notas soltas da narrativa do Alien original, mas propõe um universo que poderá ganhar vida própria. Sem grandes golpes de rasgo criativo na narrativa (que é algo linear e essencialmente funcional, sublinhe-se), o filme tem contudo a capacidade de lançar algumas questões (de onde vimos e, sobretudo, porque nos tornamos aparentemente indesejados), não procurando (e ainda bem) dar-lhes resposta. Algo minimalista nas formas, cuidado na direção artística, não repete a excelência do ainda relativamente recente Moon, de Duncan Jones, que continua a ser o melhor filme de ficção científica dos últimos anos e o que mais se aproxima do mundo de ideias que mais vezes morou na literatura deste género que nas abordagens do cinema a este universo. Mesmo assim, é do melhor que o cinema de ficção científica nos tem dado nos últimos tempos, contrariando a lógica dos bons contra maus e pancada e efeitos e mais efeitos e mais sons e explosões e mais efeitos dos filhos dos vídeo jogos que já chegaram ao grande ecrã.


O texto que se segue foi originalmente publicado na edição de 6 de junho do DN com o título “Será o ‘alien’ uma arma biológica fora de controlo?”.

Estamos no planeta Terra, há alguns milhões de anos, algures numa paisagem de montanha. Sob o olhar de uma nave que paira sobre a paisagem, um ser de formas não muito distantes das de um homem prepara-se para um sacrifício que dará origem a novas formas de vida (a todos nós, concretamente)... Pega numa caixinha, ingere uma bebida viscosa que mexe, transforma-se, mergulha, explode e o ADN alterado das suas células é espalhado na água, semeando a vida.

Estas são as imagens que abrem Prometheus, a muito aguardada prequela da série Alien que devolve à saga Ridley Scott, que em 1979 realizou Alien: O Oitavo Passageiro. Como ele mesmo prometera, Prometheus partilha ADN e espaços (e talvez apenas um pouco mais) com a saga Alien, mas é um filme que define a sua própria mitologia e, caso seja bem-sucedido, tem tudo para lançar futuras sequelas.

Era já antiga a vontade da Fox em criar novas variações em redor da série que Ridley Scott inaugurara em 1979 e que gerara uma série de lucrativos episódios (ver em baixo). James Cameron, que assinou Aliens: O Recontro Final (1986), chegou a ponderar regressar ao franchise, mas a opção do estúdio em cruzar num mesmo filme dois dos mais icónicos monstros alienígenas (em Alien vs. Predador) não lhe agradou e saiu de cena. Ficava em suspenso uma ideia de criar um filme que recuasse no tempo para explicar algumas pontas soltas (e não resolvidas) do passado de Alien, nomeadamente a figura do grande extraterrestre que a equipa do primeiro filme encontra morto numa nave abandonada, com o peito rebentado.

Em Prometheus acompanhamos uma expedição que parte, precisamente, em busca de respostas, animada por uma série de descobertas arqueológicas na Terra que dão a entender a visita antiga de um povo de formas antropomórficas que terá deixado algo que é lido como um convite.

Chegados ao mundo que os mapas estelares sugerem, encontram vestígios desses mesmos alienígenas (onde reconhecemos as semelhanças com o tal ser morto que em 1979 vimos em Alien). Chamam-lhes “engenheiros”, tomam-nos como os criadores da humanidade. Mas acabam por compreender que o lugar onde estão não é exatamente um laboratório mas um arsenal de armas biológicas sobre as quais perderam o controlo. E os aliens que conhecemos dos filmes anteriores têm afinal berço por aqueles lados...

Com argumento de Jon Spaiths e Damon Lindelof, Prometheus coloca no centro da ação duas mulheres decididas e um robot (características partilhadas em outros títulos da série Alien). Elas são Elisabeth Shaw (interpretada por Noomi Rapace), uma arqueóloga que se revela uma sobrevivente e Meredith Vickers (Charlize Theron), a fria e decidida responsável pela expedição. Michael Fassbender é David, um robot desenhado para ser idêntico aos humanos, que cuida da nave quando todos estão adormecidos, que o ator desenvolveu tomando por modelos os replicants do Blade Runner de Ridley Scott e a personagem interpretada por David Bowie em The Man Who Fell to Earth, de Nicolas Roeg. Tem ainda importância fulcral na narrativa o papel vestido por um muito envelhecido Guy Pearce, que interpreta a figura de Peter Weyland, o “patrão” da Weyland Company e financiador da missão.


Com pré-produção encetada sob o maior secretismo em abril de 2010, Prometheus entrou em rodagem quase um ano depois, com parte do trabalho feito em estúdios ingleses, com exteriores filmados em julho na Islândia, nas imediações do Hekla, um dos muitos vulcões ativos da região. O filme (em 3D) usa uma extensa equipa de animadores digitais, mas Ridley Scott fez questão de usar cenários reais em algumas das sequências, amplificando assim o efeito de verosimilhança dos espaços.

E depois de Prometheus? Há um momento no filme que sugere a eventualidade de uma sequela. Em março, no WondeCon, o próprio Ridley Scott admitiu que o filme deixa questões em aberto. Mas Lindelof, o argumentista, vincou que, a existir uma sequela, será mais afastada do universo alien.



Imagens do trailer do filme