The Human League
“Dare”
Virgin / EMI Music
4 / 5
Sheffield, 1980. A separação chegou com uma agenda de compromissos pela frente, entre os quais uma digressão. E perante a saída de Martyn Ware e Ian Craig Marsh, fundadores da banda e até então forças determinantes na condução dos destinos dos Human League (e que em breve surgiriam a bordo dos Heaven 17), o vocalista Philip Oakey deu por si com a banda em mãos mas sem capacidade para responder por si às solicitações. Partiu em busca de uma vocalista adicional, encontrando Ann Sulley e Joanne Catherall numa pista de dança de uma discoteca no centro da cidade. Não imaginou se poderiam cantar, mas pareceram-lhe as pessoas certas. Começaram a juntar vocalizações, a dançar... E quando Adrian Wright repensou a imagem do grupo e o guitarrista Jo Callis e o teclista Ian Burden se juntaram ao coletivo o grupo renascia, fazendo deste momento um dos episódios mais vezes citados da história dos primeiros momentos da pop electrónica britânica. Força maior na Sheffield de finais de setentas, cidade que representava um invulgar pólo de agitação focada na exploração das potencialidades das emergentes electrónicas, os Human League tinham já editado alguns singles e dois álbuns, a sua música cruzando uma visão pioneira com desejos de experimentação e, ocasionalmente, uma mais clara opção por uma linguagem pop. Na sua nova “vida”, os Human League procuraram outro rumo, optando pela busca de uma visão pop feita de electrónicas como até então ninguém fizera (num tempo em que, recorde-se, as electrónicas estavam ainda longe de ser ferramenta mainstream). Dare Deu ao mundo a matéria prima para mudar a relação do grande público com as novas linguagens e sons. O álbum aproveita as potencialidades das voz de Oakey e das duas novas “recrutas” e propõe um alinhamento de canções irresistíveis das quais nasceram dois clássicos maiores – Open Your Heart e Don’t You Want Me – e uma mão cheia de outros momentos que, com o tempo, criaram escola e descendência inscrevendo este disco entre as cartilhas de referência das expressões da música electrónica em terreno popular. Transformados em estrelas planetárias e nos rostos mais visíveis de uma geração (que conhecia então as contribuições não menos importantes de uns Soft Cell, Depeche Mode, Heaven 17, Cabaret Voltaire ou DAF) , os Human League levaram três anos a criar um sucessor para Dare! Nesse período, onde mais tarde chegaram a reconhecer uma etapa de alguma desorientação, editaram dois novos singles – Mirror Man, a piscar o olho à Motown dos sessentas, e (Keep Feeling) Fascination – que juntaram num EP editado em 1983. Fascination! é assim um ponto intermédio entre Dare e Hysteria (1984), gerando um instante que, apesar do impacte dos dois singles a si associados, acabou esquecido pelo tempo. O EP é agora recuperado em (mais uma ) reedição de Dare que assim não repete a solução de uma outra que, há dez anos, juntava ao álbum de 1981 o disco-companheiro Love and Dancing, de versões instrumentais para pista de dança originalmente lançado em 1982. Ao álbum de 81 e EP de 83 a nova reedição junta, nos dois CD que apresenta numa caixa de cartão, algumas remisturas e lados B. O resultado final denota contudo sinais de alguma desarrumação. Podendo juntar o LP e EP numa mesma edição que parece querer ter um valor histórico, o alinhamento pedia uma mais sistemática do acervo da época. Faltam alguns lados B, faltam versões (como a mistura do single de Fascination!) e uma ordenação mais lógica no CD2. Apesar da boa ideia de incluir miniaturas das capas dos singles da altura em cartão, a caixa peca ainda por um booklet pobre na escrita, um álbum como este merecendo melhor. Perde-se ainda a oportunidade de fazer desta caixa em fazer a integral da etapa Dare ao omitir Love and Dancing... Não era melhor deixar quem conhece a coisa fazer estas edições?