Citizens!
“Here We Are”
Kitsuné / Coop
3 / 5
Foi com os Franz Ferdinand que, em meados dos anos zero, escutámos alguns dos melhores episódios de uma verdadeira invasão de herdeiros dos ensinamentos da new wave (que caracterizou, depois da “vaga canadiana”, um dos grandes pólos de agitação em clima pop em inícios do século XXI). O filão entretanto esgotou (as ideias de quem o explorou e a paciência de quem o acompanhou) e muitos dos protagonistas dos acontecimentos de então seguiram caminho, uns cristalizando em inconsequentes revisitações de mais do mesmo, outros tentando outros atalhos. E até mesmo os Franz Ferdinand, indiscutíveis cabeças de cartaz dos melhores momentos vividos entre 2004 e 2006, revelaram em Tonight (2009) sinais de alguma dúvida quanto ao passo seguinte a tomar, o disco acabando muito aquém das expectativas de quem neles acreditava estar a banda que mais capacitada estaria para sobreviver à maré baixa que inevitavelmente se seguiria à euforia que então se viveu entre discos e palcos de festivais. Uma das mais interessantes figuras que o cenário pop/rock revelou na década dos zeros, Alex Kapranos (vocalista dos Franz Ferdinand) pode ter encontrado no trabalho com os londrinos Citizens! uma chave para reinventar o viço que animava a sua banda nos dias de Take Me Out ou Do You Want To. A sua presença é evidente na produção de Here We Are, álbum de estreia que surge na sequência de dois promissores cartões de visita que escutámos entre os singles True Romance e Reptile. Com modelos encontrados em ecos da pop mais visionária que se escutava em finais dos setentas (de Bowie aos Sparks), juntando ingredientes electrónicos que frequentemente caracterizam a imagem de marca da Kitsuné (editora que os acolheu), aqui ora acentuando marcas de contemporaneidade – (I’m In Love With Your) Girlfriend - como vincando a mesma aura retro que visita os anos 70, como se escuta em I Wouldn’t Want To) e uma angulosidade que herdam (via Kapranos) da elegante escola Franz Ferdinand, o álbum coloca em cena uma banda que, ainda incapaz de criar um álbum com a consistência de uma coleção de potenciais singles, revela contudo ser mais que a casa de pontuais promessas (como tantas vezes tem acontecido por outras bandas). Entre o entusiasmo de uma pop feita com guitarras e as electrónicas (sem contudo a pompa palaciana de uns The Killers) e marcas de quem quer estar a viver uma relação com o presente (e não em clima de nostalgia), o álbum de estreia dos Citizens! consegue, mesmo sem gerar um instante de referencia, arrumar ideias e mostrar como velhas genéticas próximas de um filão quase levado à exaustão recentemente têm ainda capacidade em comunicar com o presente. E se o produtor levar daqui ideias, o álbum que todos esperamos ainda este ano pode promover um belo reencontro.