sexta-feira, maio 18, 2012

Donna Summer (1948-2012)



Uma canção de quase 17 minutos, essencialmente desenhada por uma sucessão de gemidos, pontuais palavras cantadas e cenografia disco sound... Foi assim que, em 1975, Donna Summer conquistou o seu lugar na história da música popular. Nascida em Boston no último dia de 1948, passara pela Broadway, seguira para a Alemanha com o elenco de Hair e foi aí que, em 1975, o seu caminho se cruzou com o do produtor Giorgio Moroder com quem criou Love To Love You Baby, precisamente a canção de quase 17 minutos (na versão longa, editada no máxi-single e também no álbum) que nesse ano levou a sua voz a muitas pernas que ali encontraram banda sonora para noites de dança. Dois anos depois o não menos marcante I Feel Love, novamente com Giorgio Moroder e sob mais evidente presença das electrónicas, Donna Summer reforçava o seu estatuto como uma das vozes mais reconhecidas do universo disco e confirmava a sua visibilidade global como a primeira grande estrela da (nova) música de dança.

O melhor da sua obra mora nos discos que editou na segunda metade dos anos 70. Ainda somou momentos de sucesso nos oitentas (um deles a trabalhar com a equipa Stock Aitken e Waterman em finais da década) mas na verdade nunca repetiu os feitos dos setentas quando a sua voz foi de facto presença ousada, inovadora e profundamente influente. Teve, como se conta, algumas tiradas menos felizes nos oitentas, quando descreveu a sida como “castigo divino”, o que lhe custou uma rutura com grande parte de um público que em si via um ícone.

Donna Summer manteve carreira regular e o seu mais recente disco data de 2008. O seu legado está todavia claramente inscrito na história da cultura popular, quer através das evidentes heranças que deixou junto de figuras como Madonna ou Kylie Minogue ou através das inúmeras versões que continuam a ser criadas a partir das suas canções. Basta recordarmos a colagem que os Bronski Beat e Marc Almond criaram a partir de I Feel Love e Love To Love You Baby em 1985, a versão de uns Red Hot Chilli Peppers, a sua citação em Future Lovers de Madonna ou a leitura dominada pela distorção que os Curve apresentaram na sua visão sobre I Feel Love para escutarmos como uma obra pode lançar novos olhares e ir para lá dos horizontes. De resto, Nick Rhodes (teclista dos Duran Duran que, em finais dos anos 70, era DJ no Rum Runner Club, em Birmingham, onde passava regularmente discos de Donna Summer) descrevia ontem à BBC I Feel Love como uma canção com o raro poder de nos fazer olhar para a música de uma forma completamente diferente. E tem razão.



Imagens do teledisco de I Feel Love