sexta-feira, abril 20, 2012

Novas edições:
Tangerine Dream, The Virgin Years 1974-1978


Tangerine Deam
The Virgin Years 1974-1978
Virgin Records / EMI Music
4 / 5

O tempo e o espaço em redor de um músico não explicam tudo. E o “salto” que os Tangerine Dream dão na passagem do seu quarto para o quinto álbum contou com um determinante elemento adicional: a disponibilização de novos meios e, sobretudo, novos instrumentos. Criados em Berlim Ocidental em 1967 por Edgar Froese, a seu redor o músico chamando outros colaboradores, começaram por procurar nos limiares da experimentação os caminhos para a busca de uma identidade (processo partilhado por inúmeros outros novos grupos alemães de então, dos Amon Duul aos Can, dos Popol Vuh aos Kraftwerk). Livres nas formas, mas distantes das genéticas do jazz, traduziam o seu tempo e o seu lugar, a presença de emergentes instrumentos electrónicos sendo uma das características de uma música que, contudo, estava ainda longe do que aconteceria um pouco mais tarde. É precisamente quando, após quatro álbuns e um aplauso de John Peel para Antem (de 1973) como o melhor disco desse ano, Richard Branson os chama ao catálogo da recentemente criada Virgin Records (onde Tubular Bells, de Mike Oldfield tinha registado um êxito global), cedendo-lhes, com total liberdade criativa, os equipamentos (e instrumentos) disponíveis no seu estúdio. É do acesso a nova tecnologia que nasce o ponto de partida para uma visão mais arrumada e direcionada da música dos Tangerine Dream que em Phaedra (editado em 1974, o mesmo ano de Autobahn dos Kraftwerk) criam todo um novo universo com recurso aos sequenciadores e texturas electrónicas que servirá de “imagem de marca” para grande parte da produção subsequente do coletivo. Phaedra é um dos títulos fulcrais na história da música electrónica e peça determinante para o talhar de um espaço para a música instrumental no quadro do mercado discográfico dos anos 70. As quatro faixas do disco representam parte do alinhamento da primeira das duas caixas através das quais a Virgin revisita a etapa de vida dos Tangerine Dream no seu catálogo (período que discograficamente corresponde aos seus feitos mais interessantes). O volume um deste díptico, The Virgin Years 1974-1978 abre ao som de Phaedra e apresenta logo depois o sucessor Rubycon (1975) que segue premissas semelhantes com efeitos não muito distantes. Já Ricochet (1975) é um registo ao vivo onde a presença de guitarras abre outros horizontes, plasticamente menos visionários, mas formalmente entregues a uma ideia de construção de formas em sintonia com as experiências definidas nos dois discos anteriores. Mais evidentes são os sinais de mudança que chegam em Statosfear (1976), onde uma nova ordem melodista mais evidente afasta o grupo dos espaços mais próximos das heranças dos minimalistas visitadas nos discos anteriores, votando maior atenção a arranjos mais habitados em instrumentos “convencionais”, sem contudo procurar uma rutura com o interesse pela criação de ambientes que vinha de trás. Stratosfear completa o período em que a formação dos Tangerine Dream viveu do esforço conjunto de Edgar Froese, Christopher Franke e Peter Baumann que, discograficamente, se traduziu na melhor etapa da sua extensa obra. E de facto as mudanças são radicais quando chega Cyclone (1978). O disco, que abre espaço à voz e propõe um alinhamento com canções, revela uma opção vocal mais próxima dos caminhos do rock progressivo, não encontrando (como os Kraftwerk definiram entre Radio-Activity e Trans Europe Express) uma expressão mais próxima das características da sua identidade, a música resvalando para uma mediania que faz deste disco um dos grandes tropeções na obra do grupo. Como complemento a estes cinco álbuns, esta primeira caixa (de três CD) junta ainda os singles editados neste período. Os registos (tanto em álbum como em single, são remasterizados). Pena a falta de um booklet capaz de contextualizar esta aventura no quadro da história da música popular.