quinta-feira, março 22, 2012

Discos pe(r)didos:
Bassomatic,
Set The Controls For The Heart Of The Bass


Bassomatic
“Set The Controls For The Heart Of The Bass”

Virgin Records
(1990)

O tempo faria dele um produtor reconhecido, sobretudo depois de assinar magníficos trabalhos em álbuns como Ray Of Light (1998) de Madonna ou 13 (1999) dos Blur. Mas em inícios dos anos 90 William Orbit era um talento promissor, com obra em disco já assinado quer nos Torch Song quer a solo, já com dois discos lançados na série Strange Cargo (que então lhe deu alguma visibilidade). Mas o primeiro momento de grande visibilidade de Orbit chegou na forma de uma banda que ele mesmo criou para dar forma a uma carreira paralela à que desenvolvia em seu nome, mas focando de mais perto os espaços da música de dança e da canção. Herdeiro evidente dos ensinamentos colhidos no acid house, o álbum de estreia do projeto Bassomatic aliava o apetite melodista que Orbit já havia revelado nos dois primeiros volumes da série Strange Cargo a uma dinâmica projetada para a pista de dança (mas sem perder de vista um interesse pelo formato da canção). Set The Controls For The Heart Of The Bass (título que pisca o olho a Set The Controls For The Heart of The Sun, dos Pink Floyd) é um álbum que não se esgota contudo na ideia necessariamente insistente de uma música pensada para a dança, abrindo de resto horizontes não apenas a sugestões de cenografia e espaço em temas mais agitados (escutem-se os fundos em Freaky Angel que antecipam algum requinte de arranjos que teriam projeção anos mais tarde em Ray Of Light) como desacelera por vezes a pulsação das batidas para sugerir dois dos melhores momentos do alinhamento ao som de pequenos doces mid tempo como Ease On By (com voz de Musgrave) ou My Tears Have Gone (sob tempero dub, com voz de Laurie Mayer). Prioritariamente conduzido pelas electrónicas, mas aceitando a intervenção de outros instrumentos, Set The Controls For The Heart Of The Bass é um entre os grandes exemplos de álbuns de alma pop criados na alvorada dos anos 90 por produtores formados pelas heranças da revolução que a música de dança conheceu em finais dos oitentas. Juntamente com Emotional Hoolligan (álbum de 1991) de Gary Clail ou os dois singles que Paul Oakenfold lançou em 1990 sob a designação Movement 98, este disco de 1990 de William Orbit é um marco na história da relação da música de dança com o formato da canção.

E depois do disco
William Orbit ainda editou um segundo álbum sob o nome Bassomatic. Trata-se de Science and Melody, lançado (sem o mesmo impacte deste primeiro disco) em 1991. A solo continuou a editar discos regularmente, tendo depois ganho maior notoriedade em trabalhos de produção junto a nomes como, entre outros, Madonna, Blur, U2, Etienne Daho ou as Sugarbabes.