quarta-feira, janeiro 18, 2012

Novas edições:
Millagres, Glowing Mouth


Millagres 
“Glowing Mouth” 
Memphis Industries
2 / 5

Olhando para as listas semanais de lançamentos de discos uma primeira conclusão é imediata: há edições a mais. E da bíblica (não por ser grande, mas antiga) tarefa de separar o trigo do joio, a quantidade de títulos inconsequentes que vão surgindo supera de longe os que valem a pena reter (ou por serem musicalmente estimulantes ou por encontrarem entusiasmo no mercado). À partida o álbum de estreia dos Millagres (sim, com dois “eles”) poderia parecer coisa a ficar de fora desta lista reduzida de discos que o filtro salva e, portanto, candidato a morar entre a dose mais vasta que o tempo diluirá rapidamente entre a multidão dos esquecidos. Mas o grupo de Brooklyn pode guardar-nos surpresas. Não que o seu álbum seja coisa que valha a pena escutar e registar entre as peças que fazem a história da música do nosso tempo. Basta correr entre o que sobre eles se tem escrito para desde logo reparar na quantidade de vezes que são referidos nomes como os Grizzly Bear e Coldplay, pontualmente surgindo ainda comparações com uns Elbow ou British Sea Power. Reparando com mais atenção, verificamos que raramente o que se escreve sobre o álbum de estreia dos Millagres pouco vai além da citação de referencias e comparações. E não é preciso escutar muitas vezes o disco para compreender porquê. De fio a pavio, o que escutamos em Glowing Mouth é uma sucessão de canções cuidadosamente construídas, gravadas e produzidas, talhadas à imagem de modelos, raramente revelando quem, afinal, são os Millagres. Não se trata exatamente de uma coleção de pastiches, mas de tão encostadas aos modelos, as canções acabam por não trazer nada de profundamente novo ou de, pelo menos, verdadeiramente estimulante, o que não é contudo sinónimo de má escrita ou desfocagem de ideias (de resto, o tema-título até é um momento bem agradável). O disco nasceu depois de uma pausa de convalescença do vocalista, as canções refletindo a busca de um olhar amadurecido sobre a vida e o mundo ao seu redor. Revela uma lógica de arrumação que, não exigindo grande esforço ao ouvinte, poderá agradar aos que não são clientes da música mais talhada ao gosto do momento. De resto, entre a familiaridade com os modelos a quem as canções piscam o olho e esta ideia de casa limpinha e arrumadinha, com ocasional hino pronto a servir, mora um sério candidato a correr mundo pelos palcos dos festivais, com fiéis adoradores de gosto alternativo ma non troppo a cantarolar as mais conhecidas. O disco, convenhamos, não é uma desgraça. Nada disso! É profissionalmente competente (nada preguiçoso, antes apenas pouco imaginativo). Revela um trabalho de composição e de produção que parece certo do caminho que quer tomar (e nada contra isso, que o gosto de cada um é livre de seguir onde entenda ir). Mas no fim o que fica da audição de Glowing Mouth é quase nada... Retomando a ideia do início, o álbum seria daqueles que seguiria direitinho para o montão dos candidatos a ser esquecido. Mas se alguns promotores de concertos reconhecerem aqui o potencial para o sucesso em palco festivaleiro, o milagre acontecerá e os Millagres acabarão a dar que falar.