quinta-feira, dezembro 01, 2011

Discos Pe(r)didos:
Vários artistas, Red Hot + Blue


Vários Artistas
“Red Hot + Blue” 
Chrysalis Records 
(1990)

Neste 1 de Dezembro de 2011, em que se assinada mais um dia mundial de luta contra a sida, uma memória de 1990. Com Cole Porter na berlinda, uma mão cheia de músicos criaram versões de clássicos maiores da história da música norte-americana para, juntos, assinarem a primeira compilação pensada de raiz para uma campanha de recolha de fundos para programas de luta contra a sida. Não era a primeira vez que músicos se juntavam com semelhante propósito. Elton John, Dionne Warwick, Gladys Knight e Stevie Wonder tinham gravado em 1985 uma versão de That’s What Friends Are For, de Burt Bacharah, aí nascendo o primeiro single-campanha que recebeu mediatização global e levou palavras de luta contra a doença aos quatro cantos do mundo, recolhendo fundos pelas vendas do disco. Colecção de 20 versões de canções de Cole Porter, Red Hot + Blue não só serviu idênticos objectivos como representou o modelo de uma ideia de álbum-tributo que entretanto gerou uma multidão de descendências. Sem mais em comum senão os objectivos humanitários do disco e o facto de morarem criações de Cole Porter na base de cada canção, Red Hot + Blue reflecte essencialmente a diversidade de caminhos que a lista de convidados expressa por si mesma. Neneh Cherry encontra caminhos para I’ve Got You Under My Skin através da assimilação de elementos da cultura hip hop. David Byrne confirma o seu interesse por músicas de latitudes exteriores aos eixos pop/rock em Don’t Fence Me In. Iggy Pop junta-se a Debbie Harry para criar um hino eléctrico em Well Did You Evah. Annie Lennox atinge patamares máximos de emotividade na abordagem minimalista para voz e piano de Every Time We Say Goodbye. Os Les Negresses Vertes levam heranças parisienses a I Love Paris. Tom Waits veste muito ao seu jeito It’s All Right With Me. KD Lang é directa e pungente em So In Love. Os Erasure levam as electrónicas de travo pop a Too Darn Hot. Os U2 mostram, em Night + Day, primeiros sinais de uma transformação linguística em progresso na sua música (e da qual nasceria Achtung Baby)... Podíamos continuar a descrição passando por nomes como os de Salif Keita, Neville Brothers, Jimmy Sommerville, Aztec Camera, Sinead O’Connor ou Fine Young Canibals que, entre outros mais, completam o alinhamento do álbum. Uns mais certeiros, outros menos consequentes. Mas entre todos uma ideia comum e, no fim, um dos mais sólidos e marcantes dos discos-tributo alguma vez registados. E um primeiro episódio numa história que, depois deste, somou já muitos outros títulos a uma obra ainda hoje dedicada à mesma causa.


Imagens para o teledisco que, na altura, Wim Wenders rodou para a versão de Night and Day, assinada pelos U2 em Red Hot + Blue.

E desde então? 
Red Hot + Blue abriu a série de compilações editadas pela Red & Hot Organization, sempre sob os mesmos objectivos de recolha de fundos para campanhas de luta contra a sida. Depois deste disco foram editados outros títulos como Red Hot + Dance (1992, nas áreas da pop e da música de dança), No Alternative (1993, com nomes da cena indie da época), Red Hot + Cool: Stolen Moments (1995, dedicado a cruzamentos entre o jazz e novas formas de hip hop e suas vizinhanças), Red Hot + Rio (1996, com diálogos com a música do Brasil), Red Hot + Lisbon: Onda Sonora (1998, com a cidade de Lisboa na berlinda), Red Hot + Rhapzody (1998, um tributo a George Gershwin) ou Dark Was The Night (2009, novamente entre a cena indie). O mais recente título da série é um segundo volume dedicado ao Brasil. Editado este ano, Red Hot + Rio 2 junta nomes como Beck, Seu Jorge, Beirut, Caetano Veloso, Of Montreal, Mutantes, Marisa Monte ou Devendra Banhart.