quarta-feira, outubro 26, 2011

Novas edições:
The Sea and Cake, The Moonlight Butterfly


The Sea and Cake 
“The Moonlight Butterfly” 
Thrill Jockey 
4 / 5 

Podem não ser dos nomes mais vezes citados pelas vagas de entusiasmo que despertam as grandes paixões e geram os fenómenos de que se vai falando, mas a verdade é que nos The Sea and Cake podemos reconhecer uma das mais consistentes entre as carreiras indie rock nascidas na América dos noventas. Naturais de Chicago, começaram por tactear formas em torno de genéticas do indie rock, juntando reflexões instrumentais de alma jazzística, o tempo abrindo espaço ao trabalho com outros sons e outras referências, pelos seus discos correndo sempre um raro clima de frescura que contrasta com os temperos de ansiedade, urgência ou descontentamento que tantas vezes ganham forma pelos arredores de referências semelhantes. A voz pausada e discreta de Sam Prekop pode ser uma das suas mais vincadas características distintivas, o gosto requintado por uma ideia de canção que se saboreia e descobre marcando igualmente a história de uma discografia que soma já uma mão cheia de belos títulos. The Moonlight Butterfly é na verdade um mini LP (são ao todo seis temas, coisa maior que um EP, mas aquém da dose habitual em álbuns). E representa o que parece ser um instante de, sem ideias de ruptura, procurar uma contínua ideia de desafio (que se manifesta sobretudo numa vontade em alargar a canção além das suas fronteiras convencionais, abrindo espaço a um mais evidente protagonismo instrumental onde a repetição, a construção de acontecimentos cénicos sendo elementos que definem aqui os espaços que agora encontramos). Um certo sentido de elegância, transversal a grande parte da obra em disco dos Sea and Cake, mantém-se entre os pontos fixos de uma agenda que tanto abre espaço a uma simples exploração de programações electrónicas no belíssimo instrumental que dá título ao disco como sublinha uma filiação numa escola indie “clássica” (matriz Sonic Youth, mas com poupança na conta da electricidade) que gera outro momento sedutor ao som de Up On The North Shore. Talvez este seja um episódio mais de procura que de novo patamar encontrado. Mas junta mais um belo momento a uma obra que não parece muito preocupada em definir as regras do momento, mas antes em seguir um caminho mais seu, mais tranquilo, mais... gourmet.