sábado, outubro 22, 2011

Nos 200 anos de Franz Liszt


Assinalamos hoje os 200 anos de Franz Liszt. Este texto foi originalmente publicado no DN a 20 de Agosto com o título ‘Um mundo de gravações nos 200 anos de Liszt’. 

Há um começo para tudo. E foi com Franz Liszt (1811-1886)que a ideia do concerto para apenas um pianista em palco (podemos chamar-lhe "recital") ganhou o seu lugar no mundo da música com os anos, tornando-se mesmo num dos espaços de maior protagonismo no panorama da música clássica. Além de pianista, este húngaro nascido a 22 de Outubro de 1811 foi também maestro e professor. Abade mais adiante. E, claro, um dos compositores de maior relevo do período romântico.

Com Liszt surgiu um novo tipo de "estrela" no mundo da música: o pianista. Aquele cujos dedos dão que falar. O intérprete que soma carisma e dotes interpretativos a obras que assim ganham uma alma pessoal quando por si apresentadas. Ou, como este ano descreveu o pianista Stephen Hough em artigo publicado no jornal The Guardian, "o virtuoso que toma o centro do palco por todo um serão, tocando para uma plateia concentrada". Liszt espanta ainda ao tocar de cor (algo antes quase impensável). E, como maestro, é dos primeiros a entender esse lugar como espaço de afirmação de personalidade. Divulga obras de Berlioz, monta a primeira representação do Lohengrin, de Wagner, e de outras óperas como Genoveva de Schumann, Alfonso und Estrella de Schubert ou Sansão e Dalila de Saint-Saëns. Cria transcrições para piano de obras orquestrais de Beethoven (que o vira em concerto em 1823 em Viena), de Bellini ou Gounod. Convive com Chopin, George Sand, Lamartine... Actua em França, Alemanha, Bélgica, Suíça, Itália, Espanha, Inglaterra e, entre outros países, Portugal, em concreto em Lisboa, onde esteve entre 15 de Janeiro e 25 de Fevereiro de 1845.

"A minha cabeça e os meus dedos têm trabalhado como se estivessem possessos", descreveu uma vez Franz Liszt numa carta a um amigo quando tinha ainda 21 anos. E acrescenta: "Se não enlouquecer encontrarás em mim um artista." Tinha razão. Daí que qualquer retrato de Liszt não fique apenas por esta determinante contribuição para a história da relação do músico com o piano e do instrumento com a plateia. E é desses outros feitos que vivem grande parte das edições discográficas e programas de concertos que, neste ano, dele fazem um pólo de atenções.

Em tempo de celebração dos 200 anos do seu nascimento, não faltam títulos novos nos escaparates das edições discográficas, desde as caixas antológicas a novas gravações. Entre as edições de maior relevo conta-se uma gigantesca caixa, com 99 CD, na qual Leslie Howard apresenta gravações da obra integral para piano do compositor. Lançada pela Hyperion, Liszt : The Complete Piano Music (na foto à direita) é uma aventura que o próprio pianista descreve como "a viagem de uma vida" e que mereceu já o elogio na edição de Junho da revista da especialidade Grammophone. A caixa representa o maior projecto de reunião de gravações por apenas um músico. Entre as caixas comemorativas conta-se ainda Liszt : The Collection, 34 CD em antologia de música orquestral, para piano e órgão, pela Deutsche Grammophone. Ou, pela Brilliant Classics, A Liszt Portrait, que soma um CD-Rom a 30 CD de obras gravadas. Avulso, abundam sobretudo as gravações de obras de piano , de gravações históricas de Wilhelm Kempff a novos registos por Nelson Freire, Lang Lang, Pierre Laurent Aimard ou Benjamin Grosvenor.

Ao mesmo tempo multiplicam-se os programas de concertos e exposições em sua homenagem. Budapeste, capital da Hungria, é uma das cidades naturalmente mais atentas às comemorações, com um programa de concertos que abriu em Janeiro e se estende até Dezembro.



Algumas das muitas edições lançadas para assinalar os 200 anos de Liszt.