quinta-feira, outubro 27, 2011

Mês Tintin / Spielberg (25):
Tintin, segundo Steven Spielberg


Há 30 anos, a primeira aventura de Indiana Jones levou aos ouvidos de Steven Spielberg o nome de Tintin... Havia afinidades. Suficientes para levar Spielberg a querer conhecer Hergé (cuja obra nuna conheceu grande exposição junto do público norte-americano). E a desejar desde logo uma adaptação ao cinema das aventuras do jovem repórter. Bastava ver os filmes de animação já realizados (e esse não é o campeonato de Spielberg) ou as experiências de imagem real concretizadas nos anos 60 para entender que nem um caminho nem o outro seria o destino para uma nova vida de Tintin no cinema. A tecnologia, só longos anos depois permitiu o “eureka” que o levou, finalmente a arregaçar mangas e avançar pelo projecto. Aconteceu ao ver como a nova técnica de motion capture permitia um híbrido novo entre o trabalho com actores reais e a construção digital de um universo mais próximo do desenho (afinal, o espaço que viu nascer Tintin). De Polar Express para Monster House notaram-se avanços impressionantes no recurso a esta nova tecnologia (usada ainda por Peter Jackson, parceiro de Spielberg nesta aventura, para a criação do Gollum, na trilogia do Senhor dos Anéis). E, 30 anos depois... volià. Temos Tintin de volta ao cinema. E pelas mãos de Steven Spielberg.

A obra de Hergé mora claramente na medula do filme. De resto, na sequência de abertura vemos Tintin numa feira de antiguidades, a ser desenhado por alguém que não é mais senão uma representação do próprio Hergé, o desenho que logo a seguir nos mostra ilustrando a visão clássica que temos do protagonista. A história evolui então tomando o livro O Segredo do Licorne como espaço narrativo central, juntando elementos, lugares e personagens de O Caranguejo das Tenazes de Ouro e um final encontrado nas páginas de O Tesouro de Rackham, o Terrível. Pelo caminho, e não deixando nunca de respeitar a caracterização (física e psicológica) das personagens criadas por Hergé, há espaço para alguma liberdade, juntando elementos que garantem ao filme uma ligação entre os elementos procurados na BD e uma condução segura da história, com os ingredientes necessários a um bom filme de aventuras. As Aventuras de Tintin – O Segredo do Licorne não é, por isso, uma adaptação, quadradinho a quadradinho, dos álbuns de Hergé ao grande ecrã.

Tecnicamente a opção procurada por Spielberg e Peter Jackson (parceiro, neste primeiro filme, como produtor) resulta em pleno. Há uma verdade nos movimentos, na interpretação, cabendo à fantasia a criação de outra realidade sobre os seus corpos e sua colocação nos espaços que, assim, vivem algo entre o mundo físico e um sentido de imaginação que nasce da BD. Valeu a espera. Spielberg, de facto, encontrou finalmente o caminho certo para a expressão viva da obra de Tintin no grande ecrã. Venham as sequelas... E não falta por onde escolher...


Imagens do trailer do filme