Ao darem conta da escolha de Eddie Murphy para apresentar a 84ª cerimónia dos Oscars, as notícias tendem a sublinhar que, desde 2008, com Jon Stewart, o espectáculo da Academia de Hollywood não era apresentado por um... cómico (Steve Martin, recorde-se, esteve na cerimónia de 2010, mas formando dupla com Alec Baldwin). Assim é, sem dúvida. Mas, mesmo sem menosprezar os muitos talentos de Stewart, importará referir que não é tanto isso que muda — de facto, o que não acontecia há muito tempo era a Academia convocar alguém, cómico ou não, com a dimensão de uma verdadeira estrela de cinema.
Olhando para a lista de apresentadores dos Oscars, é certo que, recuando no tempo, encontramos personalidades tão ricas como Whoopi Goldberg, David Letterman e, claro, Billy Cristal (que definiu um estilo tão pessoal quanto inimitável). Mas quando encontramos uma genuína star, dessas cuja presença num palco se confunde com o próprio status de Hollywood?
Precisamos de recuar a 1978 para encontrar uma dessas figuras: foi o derradeiro ano em que Bob Hope apresentou os Oscars para, logo a seguir, depararmos com um ícone eminentemente televisivo, Johnny Carson (que liderou as cerimónias, a solo, quatro anos seguidos). Dito de outro modo: Hollywood foi substituindo, porventura sem medir as consequências de tal gesto, a massa simbólica dos movies pela nova simbologia da televisão.
É duvidoso que, por si só, a presença de Eddie Murphy represente um ganho automático na difícil tarefa de contrariar a baixa de audiências (televisivas, hélas!) que tem vindo a afectar os Oscars. Em todo o caso, o actor que dá voz ao burro de Shrek, continua a ser, apenas e só, um ícone cinematográfico — e isso é, apesar de tudo, a primeira vitória dos Oscars marcados para 26 de Fevereiro de 2012.