Andrea Booher/ FEMA News Photo |
Perspectivas sobre um dia que ninguém esqueceu para ler ao longo deste dia 11 de Setembro de 2011 no Sound + Vision. Dez anos depois recordamos, a várias vozes, memórias contadas na primeira pessoa... Aqui ficam mais três olhares, assinados por Eurico de Barros, João Rui Guerra da Mata e Miguel Simões.
Eurico de Barros
(jornalista do DN)
Tinha chegado do Festival de Veneza e regressado à redacção do DN depois das folgas. Depois do embate do segundo avião na torre do WTC, só me veio à cabeça um pensamento: "É um atentado terrorista". Disse-o ao Nuno Galopim, que estava ao pé de mim na redacção, a ver as imagens na televisão. Nunca pensei que o mundo fosse mudar tanto depois desse dia. E também, por outro lado, tão pouco. Faz sentido?
João Rui Guerra da Mata
(realizador)
11 de Setembro de 2001, hora do almoço. Tinha acabado de acordar. Fiz uma torrada e um copo de sumo de laranja. Acendi a televisão e sintonizei a CNN, como faço habitualmente. A primeira torre do WTC tinha sido atingida. Fiquei a olhar para as imagens, perplexo, sem reacção. Minutos depois um segundo avião atingiu a outra torre. Chamei o João Pedro. Confirma-se que é um atentado. Fui mudando de canais na televisão. Sentados no sofá assistiamos ao horror em directo. Não conseguiamos falar.
Miguel Simões
(autor do blogue Anita vai ao Mel)
De tudo o que podia ter dito à minha mãe naquela tarde em Benfica, “os Estados Unidos foram atacados” foi a única coisa que saiu, antes de seguir caminho. Percebo hoje o coloquialismo e fuga – um ateu filho de pastor evangélico evita tudo aquilo que lhe sugira verdade no Apocalipse – e o período de negação estendeu-se por vários anos, negação fertilizada pela constante repetição das imagens que todos vimos, aqueles redundantes auxiliares de memória que acabam por sanear o sentimento pela sua própria desapropriação. Felizmente multiplicaram-se (e maturaram-se) as teorias da conspiração. Como apreciador de boa ficção, foi necessária a introdução de novos vilões no segundo acto para me fazer querer enfrentar os fantasmas e, apesar da recusa apenas ter sido substituída pela raiva e descrédito de tudo o que é oficial, serviu-me para criar uma visão mais crítica e ponderada sobre aquilo que os media nos servem ao jantar, consciência essencial para entender o mundo de hoje mas que por qualquer motivo não faz parte do curriculum basilar da educação. John Stewart e o seu Daily Show, com a sua atitude de questionar a conduta dos vários braços do Poder sem abandonar um ponto de vista “terra-a-terra”, foi essencial para a minha catarse, como um bálsamo aglutinador do conforto da ponderação e do caos da desconfiança. Finalmente existia em mim a paz para pensar a tragédia, quase seis anos depois, quase dez anos depois das imagens de gente a saltar para a morte se terem tornado apenas detalhes. O resto é política...