quinta-feira, abril 21, 2011

Quando o cinema fala de... cinema


É um nome de peso com história feita no universo de uma cinematografia “independente” na América dos sessentas e setentas. Monte Hellman regressou aos filmes com Road to Nowhere, que competiu em Veneza em 2010 e recentemente teve estreia entre nós. Com alguma afinidade com temáticas (e até mesmo algumas sugestões de contador de “histórias”) com algum do cinema de David Lynch, o reencontro de Monte Hellman com as câmaras sublinha um relacionamento com o presente ao optar pelo digital como ferramenta de trabalho. Porém, por Road To Nowhere – Sem Destino (o título com que se apresenta nas nossas salas) passa toda uma antiga (e renovada) paixão pelo próprio cinema, da história do filme dentro do filme ao espaço vivido no “tempo real” escutando-se ecos de várias escolas e rumos, do noir ao thriller, de Ingmar Bergman a Preston Sturges... Vive-se o espaço da criação, os ambientes de rodagem, os conflitos e tensões, estados de alma e factos que a montagem soma com as imagens de “ficção” que vemos entretanto nascer frente às câmaras (as mesmas Canon que Hellman usou na rodagem). As duas linhas cruzam-se, os tempos, lugares e gentes de uma acabando por ser natural reflexo da outra, a narrativa evoluindo, de forma não linear, diluindo ficção e “realidade” (ocasionalmente com nota que deixa qualquer espírito racional mais perplexo) num espaço comum onde as fronteiras, por vezes, parecem menos nítidas e nem tudo se explica.


Imagens do trailer de ‘Road To Nowhere – Sem Destino’, de Monte Hellman.