terça-feira, abril 26, 2011

Quando menos pode ser mais


Com Moon afirmou uma filiação num espaço da ficção científica mais próximo das história que lemos nos livros que das que nos últimos anos têm chegado aos ecrãs. Agora, Duncan Jones confirma em pleno que essa sua estreia não era ocasional episódio de (boa) inspiração, mas antes uma etapa num processo de demarcação de um lugar no cinema de ficção científica onde, mais que de efeitos visuais e manobras tecnológicas, o cinema vive antes de uma boa narrativa que vive pela força de uma ideia.

Código Base, a segunda longa-metragem de Duncan Jones é isso mesmo: uma boa ideia. Que o realizador encena segundo (e repetindo a lógica que suportava Moon) um relativo minimalismo de recursos, desta vez somando todavia ingredientes suficientes para assegurar uma potencial comunicação com uma plateia mais vasta.

Estamos num comboio, a caminho de Chicago... Na verdade tudo se passou horas antes, à carruagem indo parar, qual intruso dentro de um outro corpo, um soldado cujas memórias mais recentes passavam por missões no Afeganistão. Instalado num hospedeiro (que é professor de história e viaja com uma colega), o soldado tem nas mãos a missão de descobrir quem foi o responsável pelo atentado que, nessa manhã, havia destruído o comboio, matando todos os que seguiam naquela carruagem, anunciando novas explosões, ainda mais graves, e para breve, na cidade. O soldado (interpretado por Jake Gyllenhaal), confuso a principio, vai tomando consciência da missão, o movimento virtual pendular entre a carruagem (onde regressa várias vezes) e uma cápsula onde retoma os sentidos após cada novo episódio desta missão em curso.

Contudo, não é no plano da acção que vive a alma de Código Base. Mas antes no jogo emocional que se estabelece entre o soldado em missão e a operacional que o “comanda” à distância, as verdades da missão e da sua situação somando dados que o levarão a tomar decisões que Duncan Jones joga depois a favor de uma reflexão não muito distante de tantas que a literatura de ficção científica já fez sobre a noção de viagem no tempo. O Código Base de que se fala no filme não é contudo uma máquina do tempo. É uma realidade digitalmente criada por computador usando supostas regras da matemática e da física, com algum parentesco com uma ideia central ao Relatório Minoritário de Philip K. Dick que Spielberg levou ao cinema em 2002. Porém, contra a artilharia de produção desse filme, Duncan Jones consegue ir mais longe na arte de nos fazer perder dentro de uma história, seguindo aquela que, ao fim de dois filmes, parece ser uma regra em construção em volta da sua identidade autoral e que defende que menos pode ser mais.



Imagens do trailer de 'Código Base'