quinta-feira, abril 14, 2011

Em conversa: Panda Bear (3/4)


Continuamos a publicação da versão integral de uma entrevista com Panda Bear que serviu de base ao artigo ‘Canções que Moram em Lisboa’, publicada na edição de 9 de Abril do DN Gente.

Havia muita luz em Person Pitch. Sente outra luz nas canções de Tomboy?
A luz estava bem presente e com protagonismo nas canções de Person Pitch. Neste novo disco a luz está mais fora de alcance, embora esteja lá. Como um luar… O estranho é que estava a gravar numa cave bem escura, mas sempre durante o dia. Ou seja estava num lugar escuro, mas consciente de que havia luza lá fora… E não consigo deixar de associar as canções a essa atmosfera escura. A ideia de que há uma luz, mas ali não a podemos ver…

Como reagem os não portugueses a uma canção como Benfica?
Creio que para um americano o título não vá significar nada… Mas a canção não é sobre o Benfica. O Benfica é antes o símbolo da canção. A canção fala sobre competição. Tive uma grande discussão com a minha mãe sobre competição. A vida é uma competição. Existir é uma competição. E não vejo isso como uma coisa negativa. Mas para ela a competição é uma coisa feia… Ela não gosta de desportos e daquela mentalidade de alguém vencer sobre outros. Entendo-a. A obsessão do mundo pela glorificação dos vencedores e a vilificação dos perdedores é, sim, uma coisa feia. Mas nem toda a competição é assim, felizmente. A canção tenta então reflectir sobre o meu lado nessa discussão. No ano passado, com o Benfica a ganhar, e com a onda que então se gerou, era como um símbolo dessa experiência. Mas foi difícil ser um adapto do Benfica este ano.

Viu o jogo recente com o Porto (e o que se seguiu)?
Sim, vi. Vi na televisão. Na verdade ainda o campeonato ia nas primeiras jornadas e já tinha sentido que para nós este ano estava acabado. Mesmo que a coisa tenha terminado da pior maneira, com o Porto a ganhar no nosso estádio (e era algo que eu já esperava) era mais juntar um caso de [como se diz em inglês] add insult to injury… Estava tão preparado que nem me incomodou. Se fosse no ano passado, quando as coisas estavam mais equilibradas, perder teria sido mais difícil.

Festejou no ano passado?
Estava a regressar nesse dia. O jogo tinha acabado de começar quando estava no aeroporto, ouvi ainda o relato no táxi e o primeiro golo aconteceu quando cheguei a casa. Moro ao lado da Avenida da Liberdade e ouvi a festa.

Costuma ir ver os jogos?
Um amigo meu arranja bilhetes e vou umas duas a três vezes… Este ano não fui…

É superticioso com o desporto?
Sou muito supersticioso com o desporto. A performance ao mais alto nível (e no desporto é como na música) torna-se uma coisa mais mental que física. É sobre como se controla a mente. E para muitas pessoas, se se tem uma superstição e algo se quebra, isso afecta aquele equilíbrio tão delicado… Tenho superstições, aquelas coisas meio compulsivo-obsessivo. Por exemplo, tenho de ter uma cerveja durante um jogo, porque a tinha numa última vitória.
(continua)