terça-feira, fevereiro 01, 2011

Milton Babbitt (1916-2011)


Um dos nomes mais relevantes da música americana do século XX, Milton Babbitt morreu este fim de semana. Este texto foi publicado na edição de 31 de Janeiro do DN com o título ‘A música abstracta de um espírito racional’.

Num artigo que publicou em finais dos anos 50, Milton Babbitt defendeu que a composição contemporânea era um universo que morava na esfera dos especialista. Com o título Who Cares If You Listen? (que em português poderíamos traduzir para “Quem é que quer saber se se vai ouvir?”), o texto deixava clara uma atitude em favor de uma música que não teria o adjectivo “fácil” como presença certa no seu retrato. Espírito racional, não sabia qual ia ser o caminho futuro da música, senão, como um dia ele mesmo respondeu, se calhar tentaria segui-lo... O compositor morreu este sábado, aos 94 anos, num hospital em Princeton (em Nova Jérsia).

Como descrever ou designar a sua música? Numa entrevista, em 2001, Milton Babbitt explicava como não era fácil encontrar uma palavra que descrevesse a música que ele e outros seus contemporâneos estavam a fazer em meados do século XX. E recordava um encontro, longos anos antes, na Smithsonian (em Washington DC) que reunia todas as mais variadas formas de música. “Havia a música étnica e a não étnica, havia música de cada canto de cada floresta do Dakota do Norte” (e sublinhava que não estava a exagerar)... E depois havia a “música clássica”, arrumada num “pequeno canto” e com três pessoas a representá-la, ele sendo uma delas... Um historiador que estava consigo comentou que, por motivos históricos, o termo “clássica” (que na realidade se aplica a uma época em finais do século XVIII), não se aplicava à música que se estava a fazer. Música cultivada? Música sofisticada? Cerebral? Na verdade não encontraram a resposta, mas o tempo acabaria por recordar Babbitt como um dos mais importantes compositores norte-americanos do século XX.


Seguidor das ideias de Schoenberg, fiel adepto do serialismo, Milton Babbitt não era conhecido como o mais acessível dos compositores da sua geração. A complexidade de uma música organizada ganhou forma em inúmeras obras (que compôs desde meados dos anos 30). Importante foi também o seu trabalho na área da música electrónica, sendo um dos pioneiros americanos na abordagem às novas possibilidades que a tecnologia trouxe à música nos anos 50 e 60.

Filho de um matemático de Filadélfia, aprendeu cedo a tocar violino e cresceu a ouvir jazz e música de musicais da época. Confessava até ser espacialista na música popular dos anos 20 e 30. Chegou a estudar matemática, mas a música acabou por definir o seu caminho. Ensinou ao mesmo tempo que compunha e reflectia sobre música, entre os seus alunos contando-se Stephen Sondheim.