terça-feira, dezembro 28, 2010

Fotogramas de 2010 (1)


* IRÈNE, de Alain Cavalier

O cinema como janela aberta para o mundo. O filme como espelho do seu realizador. Num momento cristalino, Alain Cavalier relança dois mitos fundadores do imaginário cinematográfico do século XX, com um desvio que está longe de ser banal: a sua câmara digital. Em boa verdade, o seu gesto aceita coexistir com um terceiro mito, pós-moderno e televisivo: o "amador" com a sua câmara, redesenhando a paisagem da sua própria identidade. É uma coexistência perversa, porque em tudo e por tudo alheia à pornografia televisiva: não se trata de fazer "apanhados" nem de promover patéticos "desnudamentos" do corpo ou da alma, mas de voltar a sentir como o cinema se aproxima do desejo e da morte. Bataille sente-se por aqui — como num espelho.