domingo, outubro 31, 2010

Um clássico com nova tradução


Este texto foi publicado na edição de 23 de Outubro do DN Gente com o título “E se a II Guerra tivesse conhecido outro desfecho?”, integrando um trabalho sobre o escritor Philip K. Dick.
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Não faltam narrativas contadas em cenários de ficção que partem do pressuposto que alemães, japoneses e italianos teriam sido, ao contrário do que os livros de História contam, os vencedores da II Guerra Mundial. Este é, de resto, um frequente ponto de partida para muitos livros que se enquadram num género habitualmente classificado como "história alternativa"... Exemplos? Pátria, de Robert Harris, relata a história de um investigador da polícia alemã que descobre um plano secreto da Gestapo para eliminar os oficiais envolvidos num holocausto de quem ninguém nunca ouviu falar. 1945, co-assinado por Newt Grinch (político republicano que foi speaker da Câmara dos Representantes nos anos 90) e William R. Forstchen, fala de uma guerra fria entre americanos (vitoriosos contra os japoneses) e alemães (que triunfaram na Europa). Publicado em 1962, O Homem do Castelo Alto, de Philip K. Dick, vive num cenário alternativo que viu japoneses e alemães a vencer a guerra... Mas, longe de ser um romance com figuras políticas, desvia o gume da acção para a esfera de cidadãos comuns, o contexto acabando assim por surgir a meio do texto.

Estamos na América, em 1962, os japoneses ocupando a costa do Pacífico, a Leste existindo um estado fantoche sob poder alemão. Hitler, agora doente, está retirado e, depois da morte de Borman, Goebbels é o sucessor. O mar Mediterrâneo foi drenado para servir um programa agrícola. A população de África foi eliminada. A exploração de Marte está na mira dos alemães... E, algures numa cidade interior, um escritor criou uma ficção na qual alemães e japoneses perdem a guerra... Este é o cenário onde Philip K. Dick coloca personagens, através das quais nos vai revelando, aos poucos, a sua história alternativa. O totalitarismo, a ideia de superioridade e inferioridade entre conquistadores e conquistados, o racismo, a perseguição, são elementos que cruzam a narrativa que conta entre os vários protagonistas com um antiquário americano, um jovem casal japonês residente em São Francisco (Califórnia), um veterano da Guerra no pacífico que esconde a sua identidade judaica ou um alemão que finge ser sueco e procura um encontro com os japoneses… Em 1993, o livro teve primeira edição portuguesa na colecção Argonauta (Livros do Brasil). Esta nova tradução, por David Soares, agora publicada pela Saída de Emergência, é acompanhada por um extenso e completo ensaio de Nuno Rogeiro sobre o autor e obra.