sexta-feira, outubro 29, 2010

Reedições:
Syd Barrett, The Madcap Laughs


Syd Barrett
“The Madcap Laughs”
Harvest / EMI Music
5 / 5

A carreira a solo de Syd Barrett começou em Maio de 1968, pouco mais de uma semana depois de ter sido afastado dos Pink Floyd pelos restantes elementos do grupo. Estava de regresso aos estúdios de Abbey Road, acompanhado por uma guitarra e o seu manager. Gravou primeiros takes… Regressaria no mês seguinte… E após um ano de ausência, em Abril de 1969 retoma as gravações, experimentando canções, ideias, gavando, regravando… A dada altura traz dois músicos consigo. E, na recta final das gravações, os ex-colegas Roger Waters e David Guilmour sentam-se frente à mesa de gravação, acabando assim por partilhar com Malcolm Jones a produção do disco que, editado em inícios de 1970, assinalava (poucas semanas depois de um single de avanço) a estreia a solo de Syd Barrett. Entre a arrepiante fragilidade de um Golden Hair e as mais elaboradas visões (com overdubs acrescentados) de um Octopus, The Madcap Laughs traduz marcas não apenas do visionário que fizera do álbum de estreia dos Pink Floyd um dos acontecimentos maiores do seu tempo, como também sinais de um espírito atormentado cujo comportamento progressivamente errático acabaria por ditar a sua saída do grupo. Em temas como No Good Trying ou I Love You podemos reconhecer sentem ecos de um relacionamento com formas ligadas aos caminhos que Barrett seguira com os Pink Floyd, as formas do psicadelismo ainda visíveis. Por seu lado, o incrível Terrapin aprofunda essas demandas, criando uma experiência que arrebata, porém com recurso a uma dose minimalista de formas e recursos. Já em Here I Go, Barrett pisca o olho a uma relação mais luminosa com um melodismo pop à la inglesa dos sessentas. Com a ajuda de overdubs, mas sob a clara força criativa de uma alma que entrega a imaginação à escrita e a força que tem na voz a linhas vocais imaginativas (e muitas vezes exigentes, mesmo difíceis), The Madcap Laughs não é exactamente o sucessor de Piper At The Gates Of Dawn (nunca o poderia ser, faltando uma mais evidente carga eléctrica e as contribuições dos demais elementos do grupo). Mas está mais perto da essência da génese dos Pink Floyd que o caminho que o grupo daí em diante tomaria. A presente reedição não só nos devolve um álbum tão frágil quanto maravilhoso, como lhe junta seis extras que revelam episódios gravados durante as sessões de gravação (as mesmas que já existiam numa reedição dos anos 90).