
B. Em boa verdade, tais reportagens têm toda a razão. Mas não exactamente pelas razões que enunciam. De facto, o que acontece — e se tem vindo a agravar desde que a estética do Big Brother contaminou todas as áreas do jornalismo português — é que o dispositivo televisivo passou a determinar todas as nossas vivências sociais, começando por transfigurar o seu próprio espaço. E a questão do espaço, sendo estética, é também eminentemente política. Dito de outro modo: o Campus da Justiça, com os seus figurantes misturados numa imensa promiscuidade visual (entenda-se: tele-visual), surgiu como um exemplo vivo de um espaço que se deixou permear pelos olhares totalizantes das câmaras televisivas — neste caso, há mesmo duas senhoras, mirones, a quem é conferido o espantoso direito de, em breves e devastadores segundos, deixarem mais uma visão impressionista do que está a acontecer.
C. No limite, a mensagem é: isto só está a acontecer porque nós, jornalistas, estamos aqui — o jornalismo deixou de se conceber como um labor difícil, e nunca acabado, para conhecer a complexidade do mundo; passou a assumir-se como um ritual teleológico.