Continuamos a publicação integral de uma entrevista com o compositor Pedro Amaral a propósito da ópera O Sonho, que serviu de base ao artigo 'Dar corpo a um sonho pessoano' publicado no DN a 3 de Maio.
A ópera estreou em Londres. Foi apresentada em Lisboa. E depois?
Foi assim com quase todas as óperas quase sempre. A história da ópera começa no principio do século XVII e a primeira que fica logo no repertório é as Bodas de Fígaro nos anos 1780. As óperas de Mozart foram as primeiras que, uma vez tocadas passaram a ser reproduzidas noutras salas permanentemente. Isto é um fenmómeno que não é de hoje e acontece em todas as épocas. E em qualquer obra, não na ópera em particular. Nós damo-las à luz, mas depois elas seguem o seu percurso. Isto para dizer que não estou nada preocupado. Isso não é para mim uma fonte de inquietação, muito menos de tristeza. Não sei qual vai ser o percurso da ópera, como não sabemos qual vai ser o percurso de um filho. Damos-lhe tudo o que há de melhor, preparamo-lo para a vida mas ele tem de seguir a sua própria vida. Uma obra de arte é um pouco a mesma coisa. Colocamos numa obra todas as pedras preciosas que podemos, o melhor de nós próprios. E depois abandonamos, não há nada a fazer... Não estou bnada preocupado. A minha felicidade foi a de compor ópera. Acho que atingi um nível que não sabia que podia atingir e estou extremamente feliz...
Teve alguns amigos e mesmo “mestres” a assistir à estreia de O Sonho, em Londres…
Tive a imensa felicidade de encontrar lá tanto o Peter Eötvös como George Benjamin. Sou um fã dele e acho-o um compositor extraordinário. Foi dos últimos alunos e o mais novo do Olivier Messiaen... E transformou-se num dos compositores mais importantes no panorama internacional no final do século XX e também num excelente maestro. Para a ópera Londres foi a estreia, e é por isso um espaço simbólico. Mas venho com esta felicidade de ter conseguido dar à luz esta obra. Nunca se sabe antes se é capaz de o fazer. Podemos ter ideias brilhantes, mas nunca sabemos se as conseguimos corporificar numa obra. Ninguém sabe antes de o fazer. Conseguir fazer com dimensão. É um trabalho vertiginoso de detalhe. São dezenas de decisões por compasso, milhares ao longo da ópera. Pratiquei uma escrita com um detalhe vertiginoso que, porém, funciona ao nível global.
Nem toda a música nasceu para ser gravada. Mas foi importante para si ver obras suas a chegar a um CD?
Não fizemos gravação comercial desta vez, mas estou com esperança de retomar a peça mais à frente. Para ter uma boa memória discográfica no mercado. É muito importante.