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Entra-se na fascinante exposição “Sem Rede”, de Joana Vasconcelos (Museu Berardo, até 18 de Maio), através de uma das suas peças. E a palavra através é para ser tomada à letra: chama-se Contaminação (2008-2010) e apresenta-se como um gigantesco labirinto de formas bordadas, cosidas e enredadas uma nas outras, gerando um envolvimento que desafia, de uma só vez, o espaço de exposição e o próprio conceito de objecto artístico.
A sensação, misto de euforia e angústia, talvez se possa definir como o cruzamento (ou a contaminação, justamente) de duas ideias herdadas das convulsões do século XX: por um lado, pressentimos o jogo lúdico, mas também visceralmente trágico, dos cadavres exquis dos surrealistas, inventando objectos e sensações a partir da perversa contiguidade de todas as formas; por outro lado, vogamos num espaço de puro onirismo, enraizado numa noção aprendida em Sigmund Freud, ou seja, o sonho como realização de um desejo.
Que desejo(s), então, encontramos na obra de Joana Vasconcelos? Talvez possamos responder através de um paradoxo inerente à relação com o próprio sonho. Sobretudo se nos lembrarmos que, nos nossos dias, a cultura dominante (de raiz televisiva) tende a tratar o sonho como uma espécie de fuga para uma experiência “alternativa”, banalmente hedonista e... vazia. Ora, aqui, a experiência é tanto mais física e afectiva quanto o sonho desemboca... no real.
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Escusado será dizer que esta é uma arte eminentemente política. Não porque seja estranha a uma fortíssima dimensão lúdica. Mas precisamente por causa dessa dimensão. A televisão e, em particular, a publicidade tentam convencer-nos que a “festa” corresponde a uma negação das experiências e das relações do dia a dia. O trabalho festivo de Joana Vasconcelos implica uma verdade básica, mas difícil: a de que nunca saímos da nossa dimensão humana. Demasiado humana, como dizia o outro. Mas isso é o preço a pagar pela coragem de manter os olhos bem abertos.
>>> Site oficial de Joana Vasconcelos.