sexta-feira, abril 09, 2010

Malcolm McLaren (1946-2010)

Dizer que desapareceu o manager dos Sex Pistols é talvez a mais redutora das formas de noticiar a morte de Malcolm McLaren. De facto foi o manager dos Sex Pistols (e também de Adam Ant e, depois, dos Bow Wow Wow) e figura absolutamente central na história do punk (sem ele, a história talvez hoje se contasse de uma outra maneira)… Chegou à música pelas roupas, sendo presença fulcral ao lado de Vivien Westwood em lojas que marcaram a Londres de 70…
Mas Malcolm McLaren foi mais que uma força de bastidores na história da música popular. E a sua discografia, mesmo que não muito extensa, gerou alguns títulos marcantes sobretudo nos dias de 80, vincando a diferença pela forma como sempre olhou adiante do seu tempo. Na verdade, Malcolm McLaren foi dos primeiros músicos europeus a assimilar sinais da então emergente cultura hip hop logo no seu álbum de estreia, Duck Rock, editado em 1983 (onde marcavam ainda presença as músicas de África e das Caraíbas). No ano seguinte, em Fans cruzava de forma provocadora (e cativante) os universos da ópera e da pop. Em 1989 Waltz Darling revelava, ainda antes do Vogue de Madonna, uma atenção para uma forma de expressão que nascera nos finais de 80 no underground nova iorquino. E em 1994 dedicava uma das suas mais belas colecções de canções à cidade de Paris, na companhia de vozes como as de Françoise Hardy ou Catherine Deneuve.
Ainda experimentou o cinema e a televisão. E chegou a falar de ambições na política. Morreu ontem, aos 64 anos, na Suíça.


Buffalo Gals (1983)
Um dos singles associados ao álbum de estreia de Malcolm McLaren trazia uma versão alternativa ao tema Buffalo Gals, na origem com azimutes apontados a memórias do velho oeste. Esta versão introuduzia elementos da cultura hip hop, nomeadamente o scratchin', que captou então a atenção do músico. Note-se que entre os temas do álbum de estreia de Malcolm McLaren havia também já referências às músicas de África e das Caraíbas, alguns anos antes das incursões nessas latitudes por músicos como Peter Gabriel, Paul Simon ou David Byrne.


Madam Butterfly (1984)
O álbum Fans, de 1984, promoveu um encontro entre os universos da ópera e a música pop. O disco foi antecedido pelo single Madam Butterfly, no qual uma ária da ópera de Puccini dá origem a uma canção pop de alma assombrada. Do mesmo álbum foi extraído depois um segundo single, baseado numa visita semelhante à ópera Carmen, de Bizet.


Waltz Darling (1989)
O interesse pela música electrónica e as suas possíveis relações com a canção pop mora na medula do álbum de 1989 de Malcolm McLaren. Waltz Darling, o tema-título, explorou visualmente no teledisco os gestos do vogueing, até então uma expressão pouco conhecida além do underground nova-iorquino onde se desenvolvera nos anos 80.


Deep In Vogue (1989)
O terceiro single extraído do álbum de 1989 de Malcolm McLaren tinha, na verdade, originalmente sido lançado como lado B do single de avanço do mesmo disco. Uma vez mais antes do Vogue de Madonna, o mesmo fenómeno é central a este tema, o teledisco sublinhando mais ainda a abordagem a este universo que, aqui, conhecia janela de apresentação ao mundo.


Paris Paris (1994) com Catherine Deneuve
Um dos singles do álbum Paris, que Malcolm McLaren editou em 1994, contava com a voz de Catherine Deneuve numa canção que se apresenta como dedicatória à cidade.