sábado, abril 10, 2010

Em conversa: John Potter (1/2)

Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com o tenor britânico John Potter, que serviu de base ao artigo ‘Música do Século XV na idade das electrónicas’, publicado na edição de 30 de Março do DN.

Como deu por si a trabalhar em Being Dufay de Ambrose Field?
Ele pediu-me para cantar algumas peças de Dufay. Conheço várias e fi-lo... Gravei-as num estúdio em Nova Iorque... Nem estava num dia particularmente bom e nem me esforcei por aí além... Até porque, pelo que eu conhecia da música do Ambrose, nem esperava vir a reconhecer a minha voz! (risos) Mas se imaginasse o que acabou por acontecer, se calhar ter-me-ia esforçado mais. No próximo álbum, no qual estamos a trabalhar neste momento, já me esforcei mais, sim...

Já tinha cantado Dufay noutros contextos…
Fiz muitas vezes Dufay no passado, sim.

Como descreve o que nasceu como resultado final desta parceria. Sente que criaram como que uma ponte no tempo?
Admiro muito compositores que trabalhem a música de outros compositores. Sobretudo de compositores que já não estão vivos. Sempre gostei de cantar música que é, de certa forma, como um tributo à de outros compositores. E historicamente essa era mesmo uma tradição que encontramos no espaço da música antiga. Muita da música de Dufay no século XV nasce de tributos a outros compositores... O que o Ambrose fez, de certa forma, segue essa tradição.

Ou seja, o que fizeram em Being Dufay pode ser visto como uma forma de recontextualizar uma certa tradição num outro tempo? Com a tecnologia do século XXI, a olhar para o passado com novos meios...
Exactamente. Muita da música que se faz tem a ver com as capacidades de quem a faz e com o que tem à sua disposição. E o Ambrose tem um laptop... Electrónicas. Modifica os materiais... Mas se Dufay fosse vivo hoje em dia creio que reconheceria as ideias e os imperativos como compositor que Ambrose tem.

Disse que estão já a trabalhar num novo disco. É difícil fazer um sucessor para Being Dufay?
Na verdade não será difícil fazer um sucessor porque será um disco diferente. O Ambrose pediu-me, novamente, que apresentasse algum material de base para trabalharmos. E queria explorar esta ideia de compositores que trabalham material de outros compositores. E tudo o que acabei por lhe dar vem de peças de compositores que se referem a outros compositores. Há peças do século XIV... O Ambrose está a trabalhar no novo material... De vez em quando vai-me mandando coisas para eu ouvir. E o som é completamente diferente. Está à procura de réplicas nas vozes, como se fosse uma reverberação muito distante. É uma técnica que não descrever exactamente... Mas para mim é muito interessante porque, uma vez mais, o que fiz foi cantar o material de base que tínhamos à partida. Ele faz o resto... Todo o trabalho estrutural...
(continua na próxima semana)