
O mínimo que se pode dizer é que a heterodoxia das sonoridades surpreende, desconcerta e fascina. A aposta de Zender consiste em criar uma divergência sonora — porventura não estranha ao conceito musical de divertimento —, através da qual o canto de Schubert se espelha e deforma, em última instância celebrando qualquer revisão como assumida reinvenção. Daí a sedutora tensão: sentimos as memórias de outro tempo (Schubert publicou Winterreise em 1827), reencenadas num presente necessariamente atribulado e inevitavelmente nosso.