quinta-feira, novembro 05, 2009

Música para nove músicos

Este texto foi publicado na edição do DN de 3 de Novembro, com o título ‘Uma noite à volta da música de Steve Reich’

Integralmente vestido a preto, invariavelmente de boné na cabeça, Steve Reich entrou em cena, no palco do Grande Auditório do CCB, ao lado de David Cossin. Nada nas mangas. Nada nas mãos. Na verdade, apenas com as mãos, batendo palmas, abriam uma noite dedicada à música do compositor norte-americano dando novamente vida a Clapping Music, uma peça composta em 1972.
A música de Steve Reich era a protagonista da noite. Mas o compositor apenas subiu ao palco em Clapping Music e Music For Pieces Of Wood (de 1973). O resto do alinhamento ficou por conta dos Bang On A Can All-Stars, colectivo com 20 anos de carreira apostada ora na divulgação de algumas das grandes obras da música do nosso tempo (de Brian Eno a Steve Reich) ora na apresentação de peças compostas pelos elementos que integram o grupo.
O alinhamento proposto, sem ser necessariamente antológico, promoveu um olhar panorâmico sobre a forma como Steve Reich partiu das ideias estruturais que alicerçam a sua obra rumo à sua exploração num contexto de mais largos horizontes. Se as já referidas Clapping Music e Music For Pieces Of Wood são expressão de uma etapa em que o compositor procurava uma linguagem, já a nova abordagem a Piano Phase (agora como Video Phase) trouxe uma obra de 1967 ao século XXI, colocando um músico em confronto directo com as imagens e sons de uma actuação pré-gravada. No fundo uma lógica próxima da que conduz New York Conterpoint e Electric Counterpoint. A primeira pelo clarinete de Evan Ziporyn sobre camadas pré-gravadas de outros clarinetes. A segunda, numa soberba interpretação de Mark Stewart, guitarrista a solo frente a uma muralha de 10 outras guitarras e dois baixos.
A música de Steve Reich mora no código genético dos Bang On A Can e o concerto não deixou espaço para dúvidas. O momento maior ficou guardado para o fim, em Sextet, numa leitura que deu à visionária obra com 25 anos um corpo sólido e vibrante. Em 1984 terá sugerido uma visão. Agora transformou-se num clássico. Ou, como o compositor descerevera em entrevista ao DN, tornou-se "mobília da sala".