sexta-feira, novembro 27, 2009

Histórias de Berlim (17)

É um dos bairros culturalmente mais vivos da Berlim actual, com uma história que ali cruza um passado de rendas baixas e grande concentração de população emigrante, alberga grande quantidade de artistas e é, desde finais dos anos 60, o mais reconhecido berço de fenómenos e figuras da contracultura na cidade. Esta sua alma rebelde faz de Kreuzberg uma das zonas da cidade mais vezes citadas em canções (dos Bloc Party a Stephen Malkmus) ou visitadas em páginas de livros. Hoje acolhe também uma nova comunidade de classe média. E tem, em algumas das suas ruas, intensa vida de restaurantes e bares.

Kreuzberg fica mesmo no centro da cidade, imediatamente a sul dos bairros que acolhem as suas principais instituições. Conheceu o muro como uma das suas fronteiras nos dias da guerra fria, aprofundando-se então o seu afastamento face a outros pólos economicamente mais bem nutridos da então Berlim Ocidental. Surgindo novamente como um espaço dinâmico e novamente vivo no centro da cidade depois da reunificação.

A génese de Kreuzberg é relativamente recente face a outros bairros de Berlim (muitos deles nascidos de algomerados polulacionais mais antigos). Nos dias da revolução industrial instalam-se ali populações sem grandes recursos. O bairro cresce todavia apenas nos anos 20 do século XX, arrasado mais tarde no final da guerra. Com um muro por perto, habitações simples e casas pequenas, torna-se num dos bairros com maior densidade populacional de Berlim (apesar de ser um dos mais pequenos em dimensão geográfica). As comunidades emigrantes começaram a chegar nos anos 60, numa etapa em que esta era uma das zonas com habitação mais barata na Berlim dividida.

Hoje Kreuzberg é um dos bairros com maior diversidade cultural da cidade, que anualmente se expressa no Karneval der Kulturen, uma festa na qual participam as mais diversas comunidades representadas na cidade.

É em Kreuzberg que mora ainda o que poderíamos designar como o CBGB berlinense. Chama-se SO36 (na verdade o código postal dessa zona do bairro), e em finais dos anos 70 era frequentemente visitado por David Bowie e Iggy Pop. Ainda se mantém aberto, com programação regular e sobretudo atenta a novas bandas.